Angolanos criticam contratação de professores cabo-verdianos
12 de fevereiro de 2018As primeiras reações ao anúncio da intenção de envio de professores cabo-verdianos para o ensino secundário em Angola surgiram nas redes sociais. No Facebook, muitos internautas angolanos teceram críticas ao Governo sobre a possível assinatura de um acordo entre os dois países lusófonos. As reações estendem-se agora a outros segmentos da sociedade.
O presidente do Sindicato dos Professores Angolanos (Sinprof), Guilherme Silva, em declarações à DW África, manifestou o seu decontentamento, afirmando que o Sindicato reagiu "negativamente" à contratação de professores expatriados sejam de que país for.
"Independentemente de Cabo Verde ter um Índice de Desenvolvimento Humano superior ao de Angola, onde a qualidade do ensino é de facto notória, ainda assim, nós não concordamos", argumenta Guilherme Silva.
O sindicalista lembra que existem no país e no estrangeiro muitos professores nacionais formados e que se encontram no desemprego. Por isso, considera a medida do Estado angolano "uma pouca vergonha e uma autêntica aberração".
Lembra ainda que há no mercado de trabalho angolano "milhares de jovens formados em escolas vocacionadas para a docência do nível médio ou superior".
Em declarações ao jornal cabo-verdiano "Expresso das Ilhas, o ministro dos negócios estrangeiros e comunidades de Cabo Verde Luís Filipe Tavares, que esteve de visita a Angola, já desvalorizou as críticas dos cidadãos.
"Dignidade para os homens do giz"
Os professores angolanos debatem-se com vários problemas, desde a falta de condições de trabalho aos baixos salários. Estão em curso com o Ministério da Educação negociações sobre as propostas do Estatuto da Carreira Docente e do Regulamento de Transição e Regime de Avaliação do Desempenho, dois importantes instrumentos, que segundo Guilherme Silva, "deverão devolver a dignidade aos homens do giz".
Durante as negociações, o Sinprof espera que os estatutos sejam aprovados até março de 2018 e publicados em Diário da República. "E em maio vermos refletido nas categorias dos professores a transição para o futuro da carreira docente", afirma ainda o presidente do Sindicato.
Se isso não vier a acontecer, Guilherme Silva adianta que o Sinprof vai retomar a greve nacional de "Cabinda ao Cunene, do Luau ao Lobito".
No ano passado, os professores do ensino geral fizeram uma greve a favor do aumento de salários e da atualização da carreira docente. Propostas que já tinham sidas remetidas ao governo de Luanda em 2013.