Angolanos temem inflação depois do aumento do preço dos combustíveis
6 de outubro de 2014O medo do aumento generalizado dos preços vive-se sobretudo na capital angolana, onde muitos habitantes percorrem longos quilómetros nos famosos “candongueiros” para chegarem aos seus locais de serviço.
Depois do anúncio do aumento do preço dos combustíveis, tornado público no final do mês de setembro, o assunto tornou-se tema de conversa no dia-a-dia dos táxis, mercados, cafés e restaurantes.
Aumento inadequado
Segundo os locais, este aumento vai dilatar o custo de vida dos cidadãos, sem motivos, uma vez que o país é um dos produtores do petróleo.
“De uma forma ou outra, vai custar-nos muito. Um taxista, por exemplo, que diariamente abastece a sua viatura com 60 litros de gasóleo para fazer a sua candonga, já não vai pagar o preço normal”, diz um popular ouvido pela DW África.
Outro local relata que a volatilidade dos preços dos combustíveis aumentou. Segundo ele, com dois mil kuanzas (cerca de 16,25 euros) era possível abastecer um carro com 30 litros. No dia seguinte, já só foi possível colocar 26 litros no mesmo carro.
“Acho que não temos necessidade de subirmos o preço de combustíveis, porque até somos nós que o produzimos”, defende este habitante.
“De uma forma ou de outra, isso causa-nos muitos transtornos. Hoje subiu o preço do combustível, daqui a pouco o preço do táxi sobe, e para um chefe de família que tem um salário mensal de dez mil kuanzas (81.15 euros) tirar mil ou dois mil kuanzas só para táxi é uma decadência”, explica.
Jesus Maria é um jovem que faz do táxi o seu sustento. Tal como os colegas de profissão, também ele está indignado com a medida do governo angolano, que está a retirar paulatinamente os subsídios estatais aos combustíveis.
“Quem abastecia com mil, agora vai abastecer com mil e quinhentos”, conta.
Medida introduzida pelo FMI
Este aumento surge depois do Fundo Monetário Internacional (FMI) ter iniciado uma visita de trabalho a Angola, nos dias 14 e 16 de setembro, com o objetivo de prestar assistência técnica ao Governo na reforma do programa de subsídios aos combustíveis.
Segundo o diretor do Gabinete de Estudo e Relações Internacionais do Ministério das Finanças, João Quipipa, esta medida constitui uma reposição paulatina da justiça social.
"A preocupação é continuar a garantir a sustentabilidade das finanças públicas e também a estabilidade macroeconómica", explica.
Para a Sonangol esta medida é positiva, confirma José Ndoje, diretor de marketing da empresa petrolífera angolana.
"Vai melhorar a nossa rentabilidade porque vamos ter um preço mais aproximado do preço real, logo a empresa terá ganhos", informa.
O analista económico Lopes Paulo alerta que o país vai registar um aumento dos preços em todos os setores.
"Estamos perante a mudança da base de um cenário. Se o preço do combustível é aumentado, este aumento será refletido em proporção no preço final dos bens para os consumidores", garante.