Após 39 anos, ex-combatentes lamentam desinteresse pela libertação de Moçambique
25 de junho de 2014Reza a história oficial de Moçambique que a província de Cabo Delgado é o berço da luta armada de libertação nacional.
Terá sido na localidade de Chai, onde Alberto Joaquim Chipande, militante da FRELIMO, a 25 de Setembro de 1964, terá dado o primeiro tiro que marcou o início da luta armada contra o colonialismo português.
No dia 25 de junho de 2014, o país celebra 39 anos de independência, depois de uma luta que foi conduzida pela FRELIMO - a Frente de Libertação de Moçambique.
A propósito desta data os ex-combatentes nesta província aproveitaram para se lamentar. Eles consideram que os jovens moçambicanos não conhecem suficientemente a história do país e que pouco fazem para preservá-la.
O ex-combatente Gomes Ntchenhe manifesta a sua preocupação com a juventude que pouco ou nada sabe sobre os reais objetivos que determinaram a vontade do povo moçambicano de combater sem tréguas o colonialismo português para libertar seu país.
Ntchenhe acredita que mudar isso vai ser difícil: "Vai nos custar tanto esclarecer aos jovens de hoje sobre quem são eles[os combatentes]. Não querem seguir o que nós fomos porque neste momento o jovem goza do que se chama de globalização."
Para o ex-combatente "a sua cultura não depende somente do país, depende dos outros. Portanto, é difícil que estejam conscientizados para serem e seguirem os passos que nós, os dos 25 de setembro, demos."
Passagem de testemunho?
Gomes Ntchenhe defende a necessidade de promoção e divulgação dos princípios e os benefícios da luta armada dos moçambicanos para resgatar a mente dos jovens sobre a origem do seu passado histórico.
O antigo guerrilheiro também se atribui a responsabilidade de fazer a passagem de testemunho: "Devemos trabalhar muito para conscientizar os nossos filhos, os nossos jovens, para que conheçam bem a história do povo moçambicano - a origem e onde terminou. A história não pára, mas onde terminou a história chave."
A ex-combatente Teresa Kaindi desafia a todas as “forças vivas” da sociedade a empenharem-se, sem medir esforços, nas ações da preservação do que considera ser “o fruto do sacrifício” da conquista da independência.
"Nós, como combatentes, como veteranos, queremos que os nossos netos e filhos a valorizarem a luta armada", afirma.
Ver os moçambicanos livres das opressões coloniais e da escravatura constitui marco importante na história da luta de libertação para o ex-combatente Atanásio Machude.
Machude está certo de que "se sentiu os efeitos verdadeiros da independência. No final das contas, por causa da união nacional, libertar o país a obter a independência total e completa de Moçambique."
E o ex-combatente remata: "é isto o que nós queríamos."
Jovens passam responsabilidade ao Estado
Mas os jovens têm uma resposta para situação. A suposta falta de valorização dos feitos dos ex-combatentes.
Segundo o jovem Omar Abdul, deve-se a ausência de um fórum de diálogo e reflexão efetivo entre jovens e ex-combatente: "não é que os jovens não valorizem. É que isso, incialmente, quem deveria praticar é o Estado."
Para Paulino Paulo, não é que os jovens não reconheçam o mérito do combatente da independência, mas o contexto hoje é outro. De uma forma respeitosa, concordou que "os velhotes estão certos, combateram contra os portugueses. Eles [os portugueses] saíram daqui de Moçambique e ficamos nós os moçambicanos."
Paulo acredita que é preciso conciliar as ideias dos ex-combatentes e dos jovens para vencer os atuais desafios - tal como a independência económica que o país precisa.
Pelo menos nesse ponto tanto os jovens como os ex-combatente concordam. Para Atanásio Machude, o combatente de hoje deve lutar por independência económica, desenvolvimento, atrair investimento para proporcionar o bem-estar e garantir a melhoria das condições de vida dos moçambicanos.