Artistas de Cabo Delgado queixam-se: Moçambique não apoia a arte
14 de julho de 2014Artistas em Cabo Delgado, designadamente escultores, pintores, oleiros, músicos e produtores de cestaria tradicional, estão descontentes com a política de apoio por parte das autoridades que consideram práticamente inexistente em Moçambique. Os amantes das artes, contactados pela DW África, dizem haver - entre outros problemas - uma grande falta de transparência no processo de implantação de estabelecimentos de ensino profissional e de preservação da cultura.
Estado reconhece riqueza cultural, mas não a apoia
Apesar do reconhecimento do vasto mosaico cultural, dos diferentes grupos étnicos de Cabo Delgado, a preservação do património cultural está aquém das espetativas dos artistas.
Vítor Raposo, agente cultural em Cabo Delgado, propõe ações concretas para a preservação da riqueza cultural e e uso sustentável do património cultural de Cabo Delgado: "O estado deveria apostar em escolas profissionais que promovam e desenvolvam, por exemplo, a arte makonde. Poderia muito bem ser montada uma escola de arte no planalto dos Makondes. Não só a matéria prima como também uma grande parte dos artistas estão lá. Eles até têm algumas associações que poderiam cooperar com as instâncias nacionais e regionais."
Arte makonde precisa de ser ensinada
A preservação e valorização do património cultural são ações essenciais para a memória de um lugar e de uma comunidade explica Vítor Raposo: "Vejamos o caso da escultura makonde que é uma património muito valioso e que é praticada por muitos artistas aqui em Cabo Delgado: infelizmente está cada vez mais repetitiva e isso deve-se essencialmente à falta de formação. Precisamos mesmo de uma escola de artes visuais para resgatar aquilo que está em perigo de ser perder."
O escultor Jonas Mponda afirma que urge a implementação de políticas e ações concretas tendentes a preservação das artes e da identidade cultural do povo de Cabo Delgado: "Seria necessário haver aqui em Cabo Delgado, pelo menos um museu, como aquele que existe em Nampula." Para além da falta de escolas de formação e orientação sobre técnicas profissionais, de acordo com Jonas Mponda, faltam também palcos para a exibição de danças e músicas tradicionais.
Meios escassos não chegam para muito
Para o chefe do departamento da cultura na direção provincial de educação e cultura de Cabo Delgado, Marcelino Dingano, o apoio à cultura sabe a pouco, mas os meios são escassos e não é fácil delinear as prioridades, nomeadamente no que diz respeito às infraestruturas culturais: "Para garantir o funcionamento dessas infraestruturas uma das coisas necessárias é a existência de material. Mas o material e os meios que existem aqui são escassos para poder pôr a funcionar essas escolas e outras infraestruturas." Marcelino Dingano afirma que Cabo Delgado "necessitaria de uma casa regional da Cultura. A partir daí poderiam derivar outras atividades."