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"As pessoas têm medo de nós", diz refugiado nigeriano

Adrian Kriesch, Jan-Philipp Scholz / br24 de novembro de 2015

Há anos que a população de Yola abriga pessoas que fogem da violência do grupo radical Boko Haram. Mas agora a cidade nigeriana também se tornou um alvo dos extremistas. A desconfiança aumenta entre os populares.

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Cidade nigeriana de Yola vive sob clima de tensão após atentadoFoto: DW

É quase impossível imaginar que há um mês ainda havia 30 pessoas na casa de Mama G., uma moradora de Yola, na Nigéria. Eram todos refugiados que fugiram do grupo radical Boko Haram. Ela e o marido, os amigos e a Igreja ajudam como podem. "Não recebemos ajuda do Estado", diz.

Atualmente, Mama G. abriga menos de dez pessoas. No mês passado, o Governo nigeriano conseguiu recuperar muitas das áreas tomadas pelos extremistas e muitos dos refugiados puderam regressar a casa. Mas os que ficaram com Mama G. enfrentam agora um problema: Desde que os radicais se começaram a sentir ameaçados militarmente, no nordeste do país, o número de atentados suicidas aumentou nas cidades da região. Muitos acreditam que os radicais possam estar infiltrados entre os grupos de refugiados.

Nigeria Flüchtling Amos Tagai in Yola
"As pessoas têm medo de nós, começaram a falar mal de nós", diz refugiado Amos TagaiFoto: DW

"As pessoas têm medo de nós, começaram a falar mal de nós", diz Amos Tagai. No ano passado, o jovem de 27 anos teve de deixar a aldeia onde morava e vive agora com Mama G.. "As pessoas dizem que trazemos armas e bombas para a cidade. Sinto-me mal porque eu mesmo sou um refugiado." Tagai diz que deixou de ir ao mercado. Não por medo de atentados, mas porque não quer sentir a desconfiança das pessoas ao passarem por ele.

Paralelos com Paris

Na última terça-feira, dois homens-bomba explodiram num mercado no centro de Yola, matando 34 pessoas. Desde então, a tensão entre os populares aumentou. "É de doidos", conta um vendedor do mercado. "Eu deveria ficar contente com cada cliente, mas às vezes tenho medo quando pessoas desconhecidas se aproximam da minha banca." Outra vendedora junta-se à conversa: "Essas pessoas não deveriam ter vindo. Elas podem ser perigosas. Não podemos confiar. Não as conhecemos. Como posso saber que não é um terrorista?"

Joshua Abu é politólogo e, durante muitos anos, deu aulas na Escola Superior de Yola. Ele diz que há paralelos entre o debate de refugiados na sua cidade e a situação atual na Europa.

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"Foi exatamente isso que aconteceu após o atentado em Paris", afirma o especialista. "Especulou-se se os suspeitos não estariam entre os refugiados. Exatamente como aqui na Nigéria. Claro que é perigoso, mas é difícil saber quem chega. Nós conhecemos apenas as histórias dos refugiados, mas não é possível saber se o passado deles confere."

Contudo, segundo Joshua Abu, "o medo não deve extinguir em nós o sentimento de responsabilidade para com essas pessoas". O académico diz que a população de Yola não pode generalizar e não se pode esquecer que qualquer um de nós poderá, um dia, ser também refugiado ou depender da ajuda dos outros.