Ativistas detidos em Angola: "É um Estado militarizado"
18 de setembro de 2023Sete ativistas estão detidos desde sábado (16.09) na sequência de um protesto contra as medidas restritivas à circulação de mototáxis anunciadas pelo governo provincial de Luanda.
De acordo com o advogado Zola Bambi, os ativistas são acusados de ofensas ao Presidente da República, João Lourenço.
"Não sabemos porquê, mas estão a ser indiciados de crimes de injúrias contra o Presidente da República. Pelo que se sabe, foram detidos quando preparavam uma manifestação. É neste contexto que podemos esclarecer que não foram ouvidos pelo Ministério Público. Simplesmente foram cadastrados pela Direção de Investigação de Ilícitos Penais (DIIP)", explica.
Zola Bambi informa que os ativistas vão ser presentes a juiz de garantia esta terça-feira (19.09), para determinar se continuam detidos.
Geraldo Dala foi preso com os outros sete ativistas no sábado, mas escapou da polícia: "Eu não vou para lá, têm de vir à minha procura. Dizem que nós ofendemos o Presidente, então que haja provas", sublinha.
Segundo o ativista, os colegas estiveram sem comer desde sábado. Os jovens não terão recebido comida preparada pelos familiares, mas a situação foi ultrapassada, frisa o advogado Zola Bambi. "Falámos com as pessoas que têm responsabilidade nesta área para que a comida possa chegar em condições", afirmou.
Advogado denuncia agressão de ativista
Zola Bambi denuncia que um dos ativistas detidos, Adolfo Campos, terá sido agredido na prisão: "Ouvimos dele que, durante a detenção, foi levado para uma sala, onde foi obrigado a assinar declarações, que negou, e foi ameaçado com uma pistola dirigida à sua cabeça."
Outro dos ativistas detidos no sábado é Gilson da Silva Moreira, mais conhecido por "Tanaice Neutro", que saiu da prisão recentemente, tendo sido condenado pelo crime de ultraje ao Estado. Em declarações à DW, momentos antes da sua detenção, o músico explicou que se juntou à manifestação por entender que as restrições à circulação vão penalizar o cidadão comum, que beneficia da atividade dos mototaxistas.
Para a ativista Laurinda Gouveia, uma das coordenadoras da Escola de Direitos Humanos e Liderança Comunitária, a detenção dos sete ativistas é um atentado aos direitos fundamentais dos cidadãos.
"Estamos a entrar num estado totalmente militarizado. Nós já sabemos que vivemos numa ditadura, mas o que [o Presidente] João Lourenço está a mostrar à população é realmente a informação que nós não podemos manifestar o nosso descontentamento", lamenta.
Não foi possível obter uma reação oficial sobre as detenções dos ativistas.