Tarifas de internet: "Abaixo preços absurdos, revogação já"
18 de maio de 2024A falta de resposta ao pedido de revogação dos preços das tarifas de internet levou mais de 500 jovens às ruas da capital moçambicana este sábado (18.05). Exibiram cartazes com mensagens a criticar o Governo e o Instituto Nacional das Comunicações de Moçambique (INCM).
Frases como "FRELIMO instalando uma sociedade atrasada", "abaixo preços absurdos, dados, voz e sms, revogação já", "pessoas com deficiência auditiva não ouvem, para comunicar é só através da internet" podiam ler-se nos cartazes.
Os jovens exigiram o retorno de pacotes bonificados das operadoras de telefonia móvel. Na marcha os jovens transportavam uma urna a que a ativista Quitéria Guirengane, organizadora da marcha, classificou como "o caixão que leva os sonhos dos moçambicanos" para depositar no INCM.
Ativista pede demissão do PCA do INCM
Guirengane exige ainda a demissão do Presidente do Conselho de Administração (PCA) do INCM "uma vez que não está a responder aos anseios (da população)". E vai mais longe.
"Depois vamos dizer ao ministro dos transportes e comunicações que não é capaz de se mexer nessa posição, que não é capaz de discutir a usurpação de funções da autoridade reguladora da concorrência, que também vai cair".
No entanto, esta semana, o Instituto Nacional das Comunicações de Moçambique afirmou que as reclamações dos cidadãos foram remetidas às entidades "superiores", referindo-se ao Ministério dos Transportes e Comunicações.
Quitéria Guirengane diz que se a resposta não for favorável "há entidades internacionais de direitos humanos e do direito à internet" e que "vão fazer valer essas entidades".
Aumento das tarifas tem motivações políticas
O ativista e jornalista Clemente Carlos não tem dúvidas de que o aumento da tarifa de internet tem motivações políticas.
"Os resultados das eleições autárquicas foram tendenciosos e esta informação foi difundida em larga escala e propalada nas redes sociais. Está claro que têm medo das eleições vindouras a 9 de outubro", defende o ativista.
O também jornalista diz que o Governo deve pautar-se por medidas que sejam sustentáveis à população e não agredir os seus direitos. Clemente Carlos sublinha que a contestação não é apenas devido aos custos da internet, mas também por um país justo.
"Um país onde quem comete crime por corrupção é detido e devidamente processado. Mas o que nós assistimos é que os governantes fazem e desfazem e continuam impunes", acrescenta.
"País das ordens superiores"
O presidente do Parlamento Juvenil, David Fardo, acusa a entidade reguladora das comunicações de estar a desempenhar papel de operadoras. "Mas o que nós queremos no final do dia é a revogação dos novos pacotes porque é insustentável", frisa.
O INCM funciona com base em estatutos próprios, por isso David Fardo entende que deve ser esta instituição autónoma a responsável por baixar os preços da internet.
"Mas este país geralmente funciona na base de ordens e regras superiores", lamenta.
Em Moçambique apenas 23% dos mais de 30 milhões de moçambicanos têm acesso à internet e para o ativista David Fardo "não faz sentido que o Governo incentive o uso de internet de alta velocidade para volta e meia impedir esse direito com elevados custos."
A sociedade civil convocou esta manifestação à escala nacional e afirma que adesão é positiva sobretudo nas grandes cidades. A marcha dos jovens foi ordeira sem confrontos com a polícia.