Ausência das autárquicas prejudica RENAMO e favorece MDM, dizem analistas
21 de novembro de 2013Um dia depois das eleições autárquicas em Moçambique, onde já se regista uma liderança do partido no poder, a FRELIMO, em várias províncias, enquanto noutras o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), na oposição, soma resultados assinaláveis, observadores, analistas e a sociedade civil em geral já questionam o futuro político da Resistência Nacional Moçambicana, liderada por Afonso Dhlakama, que decidiu não participar neste pleito eleitoral, em protesto contra a composição dos órgãos eleitorais, que acusa de serem favoráveis à FRELIMO.
"Cartão amarelo" para a RENAMO
Segundo o sociólogo Moisés Mabunda, os moçambicanos "exprimiram a sua consciência, assumiram que um processo democrático, a convivência social, regem-se por regras concretas, que são, nomeadamente, a prevalência da lei, de toda a regulamentação comummente aprovada pela sociedade", afirma o analista.
"Os moçambicanos assumiram que a mudança de um Estado, a mudança de um regime, a mudança da governação de um determinado partido ou de um grupo, faz-se através de um processo conhecido entre democracias, aceite universalmente, que é o processo arbitral, o escrutínio eleitoral", acrescenta.
Para outro analista, Pedro Nhacete, o povo moçambicano "foi votar com uma consciência de cidadania e mostrar que não quer governantes que ganham o poder por questões militares". "Usando a gíria desportiva", diz, este resultado "é um cartão amarelo para a RENAMO, porque as pessoas foram lá e votaram".
Estratégia pode ter consequências nas próximas eleições
Já Moisés Mabunda considera que a atuação da RENAMO foi "uma preversão daquilo que deve ser a convivência social, daquilo que são as regras que regem as democracias". "A RENAMO queria ir em contramão, queria encontrar outros mecanismos que não o processo eleitoral para mudar o partido do Governo", explica, considerando que "isto é inaceitável e os moçambicanos não aderiram naturalmente a esta contramão que a RENAMO quis impôr".
O analista Pedro Nhacete é claro: a ideia da RENAMO de não participar e boicotar o pleito foi uma má estratégia e que poderá ter reflexos. O analista afirma que "esta estratégia poderá influenciar as eleições de 2014, presidenciais e legislativas". "Estas autárquicas seriam uma ante-câmara para perceber o que pode acontecer no próximo ano, mas eles não estiveram neste ensaio. Falta muito pouco tempo para estas eleições".
Louros para o MDM
Muitos observadores atentos já falam do enfraquecimento da RENAMO e do reforço do MDM e da FRELIMO. O sociólogo Moisés Mabunda considera que "a FRELIMO já está muito forte e as últimas eleições gerais mostraram a sua força". Por isso, pensa que "o MDM está a tirar muitos louros desta situação com a RENAMO".
O analista não hesita em afirmar que "a RENAMO, em vez de apostar na organização interna, na coerência político-estratégica, na mobilização dos moçambicanos, em apresentar-se como uma alternativa de liderança social, mostra que está a derrapar. Não mostra absolutamente nada e isto beneficia o MDM, que se vai afirmando, de eleições em eleições, como uma força política a ter em conta para um futuro não muito longo".
Opinião semelhante tem o analista político Pedro Nhacete, que considera que "o partido ganha mais tarimba quando vai às eleições, concorre e é votado. Quando não tem essa possibilidade, corre o risco de afastamento político. Daqui a pouco, vamos assistir ao MDM a ser a segunda força política de Moçambique, porque o povo saiu à rua para votar e a RENAMO não está presente. Para mim, o eleitorado da RENAMO poderá ser canalizado para o MDM. E isto é o início do enfraquecimento da RENAMO".