Bissau: Guineenses mostram-se descontentes com recenseamento
21 de outubro de 2018Milhares de guineenses marcharam, este domingo (21.10), em protesto contra o recenseamento eleitoral para as legislativas de 18 de novembro na Guiné-Bissau, na principal avenida da capital guineense.
O protesto foi organizado por 22 partidos sem assento parlamentar e pelo Partido de Renovação Social (PRS), segundo maior força partidária da Guiné-Bissau e que faz parte do atual Governo de consenso, a que juntou o movimento do Botche Candé, antigo ministro do Interior e atual conselheiro do Presidente do país, José Mário Vaz.
"Estamos a exigir que as coisas sejam claras para que possamos ter umas eleições livres, justas, transparentes e universalmente aceites", afirmou Orlando Viegas, vice-presidente do PRS, acrescentando que o que está a ser também exigido é a participação de todos no processo eleitoral. "Para que o recenseamento seja feito é só cumprir aquilo que está plasmado na lei", salientou.
Por sua vez, Nuno Nabian, presidente da APU-PDGB (Assembleia do Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau), exigiu um recenseamento que cumpra a lei eleitoral, salientando que sempre foram coerentes nas suas posições. "A APU está aqui para dizer ao Governo para cumprir com os preceitos da lei do recenseamento e da lei eleitoral", afirmou.
Nulidade do processo?
Questionado sobre se a APU vai pedir a nulidade do processo eleitoral, Nuno Nabian, que nas últimas presidenciais ficou em segundo lugar, disse que sim, porque o "processo não é credível". Para o presidente da APU, "os cartões eleitorais não têm fiabilidade" e, acrescenta, não se pode ir para eleições com cartões que qualquer um pode fabricar.
Braima Camará, que faz parte do grupo de dissidentes do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e criou recentemente o Madem-G15, afirmou que o protesto tem como objetivo chamar "à responsabilidade as instituições e o Governo da Guiné-Bissau". "Estamos só a pedir justiça e cumprimento escrupuloso da lei da República, da lei do recenseamento e da lei eleitoral", disse.
O processo eleitoral para as legislativas tem sido fortemente criticado também pela sociedade civil, que já pediu o adiamento das eleições.
Em causa está, essencialmente, o facto do recenseamento eleitoral não ter decorrido entre 23 de agosto e 23 de setembro, como previsto, devido a atrasos na chegada dos equipamentos para recenseamento biométrico. O recenseamento acabou por só ter início a 20 de setembro e deveria ter terminado este sábado (20.10). Mas a lei eleitoral prevê dois meses para o registo dos eleitores.
A marcha esteve inicialmente prevista para quinta-feira, mas foi adiada para hoje por causa da greve dos transportes de pessoas no país, que prejudicava a mobilização de apoiantes.