Burkina Faso: Compaoré julgado pelo homicídio de Sankara
13 de abril de 2021O antigo Presidente do Burkina Faso Blaise Compaoré, exilado, vai ser julgado pelo homicídio do seu antecessor, Thomas Sankara, durante o golpe de Estado de 1987, no qual tomou o poder, segundo fonte judicial.
O caso foi submetido esta terça-feira (13.04) ao tribunal militar de Ouagadougou, a capital do Burkina Faso, após as acusações contra os principais arguidos, incluindo Blaise Compaoré, terem sido confirmadas 34 anos após a morte do ícone africano conhecido localmente como o 'pai da revolução', de acordo com advogados de defesa e partidos civis citados pela agência de notícias France Presse (AFP).
"Esta manhã assistimos à deliberação do departamento de controlo da investigação, que remeteu o caso para julgamento", disse à AFP Guy Herve Kam, advogado da parte civil, acrescentando que o rol de acusados é "essencialmente Blaise Compaoré e 13 outros, acusados de atacar a segurança do Estado, cumplicidade no assassinato e cumplicidade no recebimento de cadáveres".
Segundo este advogado, "chegou finalmente o momento da justiça e um julgamento pode começar". Cabe ao procurador militar "marcar uma data para a audiência", acrescentou.
Entre os arguidos encontram-se o general Gilbert Diendéré, um dos principais chefes do exército durante o golpe de 1987, e que mais tarde foi chefe do Estado-Maior das Forças Armadas de Compaoré, e vários soldados da antiga guarda presidencial.
O general Diendéré está atualmente a cumprir uma pena de 20 anos de prisão no Burkina Faso por uma tentativa de golpe de Estado em 2015.
O "Che Guevara africano"
Thomas Sankara, que chegou ao poder num golpe de 1983, foi morto por um comando a 15 de outubro de 1987, aos 37 anos, num golpe que levou o seu então companheiro de luta Blaise Compaoré ao poder.
A morte de Sankara, que se tornou uma figura pan-africana e foi apelidado de "Che Africano", foi um assunto tabu durante os 27 anos de poder de Compaoré, que foi ele próprio derrubado por uma insurreição popular em 2014.
O caso foi novamente trazido para a ribalta depois da saída de Compaoré pelo governo democrático de transição e em março de 2016 foi emitido um mandado de captura contra o antigo presidente, que vive na Costa do Marfim.
O antigo chefe de Estado tem nacionalidade costa-marfinse e, como não há acordo de extradição, deve ser julgado à revelia.
Em fevereiro de 2020, teve lugar uma primeira reconstituição do homicídio de Sankara no local do crime, na sede do Conselho Nacional da Revolução, em Ouagadougou.