Caça furtiva na reserva do Niassa em Moçambique ameaça turismo no país
9 de dezembro de 2014Mais de 100 mil elefantes africanos foram mortos entre 2010 e 2012, e quantidades cada vez mais elevadas de mafim foram vendidas num crescente número de lojas na China, denunciaram num relatório conjunto divulgado em Nairobi, capital do Quénia, as organizações não governamentais “Save The Elephants” e “The Aspinall Foundation”.
As duas ONGs lançaram um apelo a Pequim para que reaja com firmeza: “A China detém a chave quanto ao futuro dos elefantes”, explicou Iain Douglas-Hamilton, fundador da “Save The Elephants”.
Se a China não está em posição de pôr um termo à procura de marfim, os elefantes de África poderão desaparecer da face da Terra numa geração”, alertou Douglas-Hamilton.
Caça furtiva em Moçambique ameaça o turismo
A caça furtiva na Reserva Nacional do Niassa, no norte de Moçambique, está a ameaçar o turismo, com os caçadores furtivos a afugentar os turistas que se deslocam à região para fazer safaris de caça ou fotográfico em zonas delimitadas. Os responsáveis da reserva estão preocupados com a situação.
Só este ano (2014) mais de cem elefantes foram mortos por caçadores furtivos no Niassa, onde está localizada a maior reserva natural de Moçambique e também a que tem a maior população de elefantes: mais de 13 mil, segundo as últimas estimativas.
Na Reserva do Niassa existem 11 concessões: sete para atividades de caça e quatro para o turismo ou safari fotográfico. Mas a caça furtiva desenfreada é uma ameaça não só para os elefantes, mas também para a própria reserva.
Segundo o administrador Cornélio Miguel, os caçadores furtivos estão a afugentar os turistas, que cancelam as visitas porque acham que "existe uma competição com os caçadores furtivos. Estes procuram mais os troféus e os turistas procuram também os tamanhos dos troféus. Uma situação que acaba por exercer grandes pressões sobre os elefantes machos no seio da população dos paquidermes na região.”
Governo deve adotar políticas claras para o combate à caça furtiva
Suizane Rafael, jornalista e editor do jornal “Faísca”, no Niassa, visitou recentemente a reserva natural. Segundo disse à DW África a situação é grave e que é preciso que "o Governo adote políticas claras para combater a caça furtiva". Para tal, segundo Suizane Rafael o Governo tem que passar o mais rapidamente possível das palavras às ações.
“Se o Governo fosse mais sério teria que envolver o exército no patrulhamento daquela área. Trata-se de uma experiência que já existe noutros países. Quando esse perigo de caça furtiva existe, os governos colocam nas reservas ou regiões destacamentos do exército cuja missão é patrulhar e conter esta onda de caça ilegal. A própria reserva em si está a recrutar novos fiscais mas não é suficiente porque a área é vasta”.
Moçambique perde dinheiro com o cancelamento dos safaris
Cornélio Miguel, da Reserva Nacional do Niassa, sublinha que, com os turistas a cancelarem as visitas àquela região moçambicana, o país fica a perder muito dinheiro.
“Com o cancelamento dos safaris Moçambique perde dinheiro. Primeiro são as despesas que o turista iria fazer dentro do país através das companhias aéreas e de muitos hotéis e por outro lado, porque esses turistas pagam algumas taxas para poderem usufruir desse aspeto particular que é o safari fotográfico ou outro."
O administrador do Parque destaca ainda que há também danos para as comunidades: "Desse montante que o Governo pode arrecadar retira 20% para ajudar as comunidades locais, para além de uma outra parte ser utilizada na própria gestão da reserva. Então se forem cancelados os safaris isso também implica a redução das nossas despesas.”
Preço do marfim triplicou na China
A caça furtiva de elefantes, mas também de rinocerontes, aumentou muito nos últimos anos no continente africano, algo que é alimentado pela grande procura do marfim e chifre de rinoceronte no continente asiático, onde são vendidos pelo seu aspeto decorativo e supostas virtudes medicinais, respetivamente.
Os preços tornaram-se astronómicos, fazendo com que estas presas de animais selvagens sejam extremamente cobiçados pelas gangues criminosas internacionais e grupos armados. O preço do marfim bruto na China passou de 750 dólares (550 euros) o quilograma em 2010 para 2.100 dólares (1.540 euros) em 2014.
Depois da proibição em 1989 do comércio internacional de marfim, a indústria chinesa de transformação estava moribunda. A venda, autorizada pela CITES (Organização internacional de proteção de espécies ameaçadas) de 62 toneladas de marfim da África austral à China em 2008 e o enriquecimento da população chinesa fizeram explodir a procura e resuscitou o setor.