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"Regresso da Total vai implicar compartilhamento dos custos"

19 de fevereiro de 2024

Paris desaconselhou viagens à Cabo Delgado devido ao terrorismo e Maputo ficou "de pé atrás". Investigador acredita que Moçambique poderá ter de comparticipar custos de segurança para regresso da TotalEnergies ao gás.

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Petrolífera francesa Total lidera consórcio da Área 1, investimento de 20 mil milhões de euros para exploração de gás em Afung, Cabo Delgado
Petrolífera francesa Total lidera consórcio da Área 1, investimento de 20 mil milhões de euros para exploração de gás em Afung, Cabo DelgadoFoto: Roberto Paquete/DW

Numa mensagem destinada aos cidadãos franceses, a embaixada de França em Maputo disse, na última semana, que "devido à presença de uma ameaça terrorista e de raptos nas cidades de Mocímboa da Praia, Pemba e Palma, é fortemente recomendado não viajar para estas cidades, bem como viajar nas estradas que ligam estas localidades".

Mais do que evidenciar o agravamento do terrorismo na província de Cabo Delgado, para o politólogo Ricardo Raboco o apelo sinaliza uma bandeira vermelha para Moçambique.

"Essa mensagem deita abaixo todas as expetativas em torno do regresso da Total de começar a trabalhar em pleno", considera, referindo-se à exploração de gás no norte de Moçambique.

Regresso da Total implicará custos para Maputo

Além disso, segundo o analista, o alerta francês vem também confirmar o que alguns já previam: "O regresso da Total vai implicar o compartilhamento dos custos operacionais e isso vai implicar um adeus em torno das expetativas das mais valias, em torno das promessas desses projetos. O Estado moçambicano terá de comparticipar em matéria de segurança".

Uma saia justa indesejável para Maputo, já que Moçambique não estaria em condições de responder à exigência, à partida, sem recorrer a qualquer tipo de endividamento.

A mais recente posição de Paris, entretanto, choca com a intenção anunciada também este mês pela TotalEnergies, numa altura em que se agrava a insurgência, de um possível regresso da multinacional até ao final deste ano.

Um facto que faz o especialista em paz e conflito Calton Cadeado perceber uma postura estratégica dúbia da Total: "Os franceses ainda não estão interessados em fazer uma retoma agora. Para mim a tese, com toda a razão que têm, é roi e sopra. Para mim nada me tira da cabeça que o foco são as eleiçoes", afirma.

Filipe Nyusi em Cabo Delgado, em agosto, na inauguração dos primeiros 70 quilómetros de estrada que ligarão a província à Tanzânia
Filipe Nyusi em Cabo Delgado, em agosto, na inauguração dos primeiros 70 quilómetros de estrada que ligarão a província à TanzâniaFoto: Delfim Anacleto /DW

Nyusi desagradado com Paris

Quem parece não estar a apreciar muito as recomendações de Paris é o Presidente de Moçambique.

À margem da cimeira da União Africana, Filipe Nyusi afirmou que "cada país tem uma agenda e a agenda é alinhada e integrada. Deve haver um motivo qualquer por que foi feito um comunicado da Embaixada".

O chefe de Estado lembrou ainda que a declaração surge quando o país está "a trabalhar arduamente para provar ao mundo que está empenhado com os seus parceiros na luta contra o terrorismo".

Trabalhos suspensos?

Perante os últimos desenvolvimentos, o analista alemão Andre Thomashausen acredita que a política de "carrot and stick" (na tradução literal, cenoura e vara) da Total poderá cingir-se apenas à fase do "stick".

O analista acredita que "haverá de novo uma reviravolta, uma reconsideração da parte da TotalEnergies, se poderão continuar com a preparação de uma exploração de gás ou se deverão novamente suspender os trabalhos devido à insurgência".

Na visão de Thomashausen, a solução será simples: "Basta que haja uma nova aproximação para tentar resolver essa crise".

A presença das forças ruandesas em Cabo Delgado é promovida pela França, mas, nos últimos tempos, é vista como intencionalmente menos ativa, facto que facilita o novo vigor insurgente verificado nas últimas semanas.

A situação está a ter um efeito dissuasor não só no campo económico, mas também no campo social, com o aumento de deslocados, fuga de pessoas e crise no campo da ajuda humanitária.

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Nádia Issufo
Nádia Issufo Jornalista da DW África
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