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Cabo Delgado: "Precisamos agir mais e agora"

20 de janeiro de 2021

Diretores da ONU para a África Austral e Oriental lançaram, esta quarta-feira, um grito de alerta sobre a situação em Cabo Delgado, no norte de Moçambique.

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Foto: DW

O acumular de três anos de violência e ataques armados continuam a deixar marcas severas na província de Cabo Delgado e a remeter, diariamente, milhares de famílias deslocadas a condições desumanas. O alerta foi reforçado esta quarta-feira (20.01) durante uma conferência online por vários diretores da ONU para a África Austral e Oriental, que estiveram em dezembro numa missão conjunta em Moçambique.

É imperativo "uma resposta em grande escala e urgente", sublinhou a coordenadora residente das Nações Unidas em Moçambique, Myrta Kaulard. 

"Estamos a falar de pessoas que por algum tempo não conseguem voltar para as suas áreas. Esta situação não é sustentável e corre o risco de ser um fator adicional que pode causar mais necessidades humanitárias", afirmou.

"É absolutamente urgente responder ao apelo humanitário das Nações Unidas e trazer recursos para ajudar as comunidades, ajudar Moçambique e responder à situação."

A missão em dezembro teve como objetivo avaliar a situação e as necessidades dos cidadãos deslocados, bem como das comunidades que os acolhem. Os responsáveis também se encontraram com membros do Governo, em Maputo.

Impacto psicológico "perigoso"

Durante a conferência desta quarta-feira, o diretor regional para a África Austral do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, Valentin Tapsoba, disse que, em mais de 20 anos, poucas vezes esteve exposto a tamanha desolação, em Cabo Delgado.

Mosambik | Provinz Nampula | Vertriebene Kinder Opfer von Terrorismus
Deslocados em Cabo Delgado estão dependentes da ajuda humanitáriaFoto: Roberto Paquete/DW

"Muitas pessoas disseram que as suas casas foram saqueadas e queimadas e as suas fontes de sustento destruídas. Esses ataques brutais acontecem num contexto de extrema pobreza e desigualdade, com muitos pais a não conseguirem mandar os seus filhos para a escola ou alimentá-los, nem oferecer um teto."

Tapsoba disse ainda que o nível de insegurança está a ter um "impacto psicológico perigoso" em homens, mulheres e crianças, que temem ser atacados a qualquer momento.

"A situação é terrível. É uma crise humanitária em que violações dos direitos humanos ocorrem todos os dias. A comunidade internacional não pode permitir que esta situação continue assim", frisou.

Falta quase tudo

Teto, acesso a serviços básicos, alimentação adequada, água, educação e cuidados de saúde faltam a esses homens, mulheres e crianças entre os mais de 500 mil deslocados, sobretudo na cidade de Pemba.

"Se a situação continuar a deteriorar-se, o número de pessoas deslocadas aumentará a cada dia e todos nós precisamos agir mais e agora, se quisermos evitar uma catástrofe humanitária", acrescentou Tapsoba.

Os responsáveis da ONU lembraram ainda outros riscos como a estação das chuvas ou o surto de cólera, declarado no distrito de Montepuez, que podem agravar a crise humanitária, além da pandemia da Covid-19. Pediram também apoios para o reassentamento das famílias.

A missão conjunta a Cabo Delgado, em dezembro, contou, entre outros, com representantes da Organização Internacional para as Migrações (OIM), Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP), Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

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