Caso Manuel Chang adiado para 18 de janeiro
10 de janeiro de 2019A audição do antigo ministro das Finanças moçambicano, Manuel Chang, no tribunal de Kempton Park, em Joanesburgo, foi adiada até à próxima sexta-feira, 18 de janeiro. Chang está detido desde 29 de dezembro, a pedido dos Estados Unidos da América (EUA), que solicitam igualmente a extradição do ex-governante.
Segundo o correspondente da DW em Joanesburgo, o adiamento foi justificado pelo facto de a defesa pretender contestar as decisões do tribunal, nomeadamente a legalidade da detenção, decidida na quarta-feira (09.01), e os termos do pedido de caução, além de informações detalhadas sobre o processo de detenção, que não teriam sido reveladas pela promotoria.
O advogado de defesa de Manuel Chang, o sul-africano Willie Vermeulen, referiu em tribunal que o mandado de prisão emitido pelos EUA "tinha sido censurado" e "estava comprometido" por falta de informações completas.
Mas, de acordo com a promotora Elivera Dreyer, a prisão de Chang foi legal ao abrigo do tratado de extradição entre os EUA e a África do Sul, e este país incorporou legislação subsequente à lei que rege a extradição.
"É um assunto complexo, especialmente quando indivíduos de alto perfil estão envolvidos. Moçambique não tem tratado de extradição com os EUA, por isso, quando Chang estava na África do Sul, tornou-se uma questão de urgência que ele fosse preso", explicou Dreyer à Agência de Notícias Africana (ANA).
Borges Nhamire, pesquisador junto do Centro de Integridade Pública de Moçambique, CIP, que acompanha de perto este processo, analisa-o da seguinte forma:
“O tribunal vinha aqui para receber o pedido de caução do ex-ministro das Finanças e a estratégia da defesa mudou. Quando chegaram aqui ao invés de submeter o pedido de caução, atacaram o mandado de captura alegando que é ilegal, porque simplesmente ordena-se a prisão, mas não se ordena a extradição no mesmo documento.”Nhamire explica por outro lado, o que teria ditado a revogação de todos argumentos da oposição de Chang, apresentados nas três audições do caso.
“Todos esses três pedidos que foram negados... foi em consonância com a posição da África do Sul enquanto Estado. Porque a senhora procuradora não é da acusação, não representa os Estados Unidos da América, representa a África do Sul. Simplesmente defende a posição da África do Sul face a este processo.”
Quem paga a defesa de Chang?
Entretanto, muitos observadores interrogam-se sobre quem estará a pagar os custos inerentes à defesa de Chang, na medida em que o gabinete de advogados BDK, responsável pela defesa do ex-ministro, tem no seu currículo entre outros clientes Duduzane Zuma, filho do antigo Presidente Jacob Zuma, e a família de imigrantes indianos, Guptas, acusados de sequestro do Estado na presidência de Zuma entre outros.Questionado se estaria o Estado moçambicano a custear a defesa de Manuel Chang, o General Zacarias Cossa, conselheiro da polícia junto do Alto Comissariado de Moçambique na África do Sul, disse que "não cabe a mim responder a estas questões, porque as ignoro totalmente. Mas, se puder fazer essas perguntas aos seus familiares eu penso que vai encontrar a resposta.”
Entretanto, em Maputo, a Procuradoria-Geral da República de Moçambique (PGR) pediu ao Tribunal Administrativo a responsabilização financeira do antigo ministro das Finanças Manuel Chang e da atual vice-ministra da Economia e Finanças, Isaltina Lucas, pelo seu papel na operação das dívidas ocultas.
Um documento citado hoje (10.01) pelo jornal Notícias, o principal diário moçambicano e que é maioritariamente detido pelo Estado, refere que a PGR também quer que o antigo governador do Banco de Moçambique Ernesto Gove, o presidente do Conselho de Administração das três empresas que receberam os empréstimos escondidos, António do Rosário, e o ex-diretor dos Serviços de Informação e Segurança do Estado (SISE) Gregório Leão também sejam responsabilizados financeiramente pelo Tribunal Administrativo (TA).