CEDEAO aplica sanções a líderes do golpe na Guiné-Conacri
17 de setembro de 2021A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) impôs esta quinta-feira (16.09) sanções contra os líderes do golpe de Estado perpetrado no passado dia 5 na Guiné-Conacri e exigiu o regresso à ordem constitucional em seis meses.
"A transição deve ser muito curta. Os chefes de Estado da CEDEAO afirmaram claramente que a transição não deve durar mais de seis meses, por isso, em seis meses, devem ser realizadas eleições. Não haverá necessidade de uma transição longa, porque o país precisa de voltar à ordem constitucional", disse à imprensa o presidente da Comissão da CEDEAO, Jean-Claude Kassi Brou.
O bloco de 15 países reafirmou o apoio da organização ao poder na Guiné-Conacri para regressar às mãos dos líderes civis. E deixou claro que os líderes do golpe militar não podem concorrer às próximas eleições presidenciais.
A cimeira de chefes de Estado reafirmou a sua exigência para a imediata libertação e sem quaisquer condições do Presidente deposto, Alpha Condé. A CEDEAO ameaça responsabilizar individual e coletivamente os membros do comando militar que assumiu o poder no país pela integridade física de Condé, de 83 anos.
Bloqueios
No final de uma cimeira extraordinária realizada em Acra, na capital do Gana, o presidente da Comissão da CEDEAO disse aos jornalistas que os chefes de Estado do bloco decidiram aplicar a proibição de viajar e bloquear os ativos financeiros dos membros da junta militar que dirige a Guiné-Conacri.
"E porque houve um golpe que é um sinal inaceitável, os Chefes de Estado da CEDEAO impuseram sanções aos membros do Comité Nacional para o Desenvolvimento e Restauração na Guiné, o novo órgão que tomou posse. Assim, as sanções a esses membros abrangem proibições de viagem, congelamento de bens, bens financeiros, essencialmente", explicou.
A CEDEAO apela à União Africana, à União Europeia, às Nações Unidas e aos parceiros multilaterais e bilaterais para também aplicarem as sanções impostas.
"Somos obrigados a tomar decisões que terão consequências a longo prazo para a estabilidade e a defesa dos valores democráticos na região", afirmou o Presidente do Gana e presidente em exercício da CEDEAO, Nana Akufo-Addo, no discurso de abertura da cimeira.
Após a reunião, o Presidente do Senegal, Macky Sall, disse na sua conta da rede social Twitter que saúda "as firmes decisões da cimeira para a salvaguarda da democracia, paz, segurança e estabilidade na sub-região".
Reação dos militares
O líder do comando militar que assumiu o poder na Guiné-Conacri, Mamady Doubouya, disse que os militares vão cooperar, mas sem pressão.
"Nós vamos cooperar, somos apreciados pelo povo. Muitos grupos e cidadãos têm saudado o golpe. E queremos que todos respeitem isso. Precisamos realmente de todos nesse caminho para acompanhar este processo sem pressão e sem usurpação", sublinhou.
Siaka Barry, ex-parlamentar e um dos líderes da oposição disse confiar que "os líderes militares irão fazer uma transição pacífica". Entretanto, não descarta "que se deve ter cuidados para evitar oportunistas”.
No passado dia 8 de setembro, a CEDEAO decidiu, após mais uma cimeira extraordinária, suspender a Guiné-Conacri de todas as instituições da organização. Os líderes daquele bloco também concordaram em enviar uma missão de alto nível, que visitou a Guiné-Conacri na passada sexta-feira para discutir a situação com a junta militar que governa o país.
Estado do ex-Presidente
Na quarta-feira (15.09), a ministra de Relações Exteriores do Gana, Shirley Ayorkor, disse que Alpha Condé está "fisicamente muito bem", segundo relatório médico. Contudo, o ex-Presidente ainda está assimilando o fato de que seu governo foi deposto depois de décadas no poder. "Para qualquer pessoa que passou por uma experiência tão traumática como ele, mentalmente, não é o melhor. Ele está ainda está em estado de choque", relatou.
Alpha Condé provocou uma série de protestos em 2020 depois de ter aprovado um referendo constitucional que justificava sua participação na corrida eleitoral para um terceiro mandato de cinco anos. Em outubro, venceu as eleições.