Cesária Évora: "Sodade" sem fronteiras
17 de março de 2018Lucibela foi a primeira a entrar em palco, sob a batuta da Cesária Évora Orchestra, para o concerto de homenagem à cantora, no festival "Over the Border" (além da fronteira), na sexta-feira (16.03) - um evento realizado com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU), que em tempos recebeu a visita da "diva dos pés descalços".
Cize morreu há mais de seis anos, mas as homenagens continuam, um pouco por todo o mundo. O seu legado é inegável, sublinha a jovem cantora nascida na ilha de São Nicolau.
"Não podemos esquecer o que ela fez por Cabo Verde, abriu-nos a porta para o mundo. Cabe-nos agora dar continuidade a isso e ela tem de ser relembrada pela influência que ainda tem sobre nós", diz Lucibela, atualmente em digressão pela Europa para apresentar o seu álbum de estreia, "Laço Umbilical", que já promoveu em Paris, em espetáculos na capital francesa.
"Ninguém substitui Cesária"
"Cize, Cesária, mesmo não estando aqui, junta-nos, continua a fazer coisas maravilhosas, como proporcionar este encontro entre colegas que não se veem muitas vezes e esta partilha de uma emoção que é especial", salienta a cantora cabo-verdiana Nancy Vieira, que se tem rendido ao "público que vem sedento e cheio de saudades" da cantora.
"Cesária que nós não substituímos e nem ninguém substitui, mas este concerto e estas músicas matam um bocadinho das saudades e as pessoas ficam felizes".
Nancy Vieira lançou este mês o disco "Manhã Florida". Um novo álbum no qual realiza um sonho antigo: trabalhar em disco com o compositor e produtor Teófilo Chantre, que compôs precisamente o tema que dá nome ao trabalho.
"Mãe carinhosa"
"A Cesária é cada vez mais conhecida entre os jovens, que estão a descobri-la", afirma o músico. E há um pedido dos fãs, porque a Cesária deixou muita gente órfã", lembra o autor de "Mãe carinhosa", uma das muitas canções que compôs para a cantora.
A cantora Elida Almeida, a mais jovem do grupo, mas não menos habituada a cantar pelo mundo, recorda a mulher que quebrou preconceitos e estereótipos em Cabo Verde.
"Uma mulher sem fronteiras, uma mulher muito forte, que incentivou e despertou essa vontade de deixarmos a nossa marca no mundo", sublinha a jovem, "e de fazermos as mesmas coisas que os homens."
Sem fronteiras
"A Cesária Évora está em todos os nossos sentidos, em todas as nossas famílias", diz Dino D' Santiago, que continua a correr mundo, de Portugal para os palcos internacionais e cada vez mais perto das origens cabo-verdianas. Sempre com Cesária no coração.
"É um ser que unifica. Ela é um exemplo de sem fronteiras a todos os níveis, desde furar tudo o que sejam protocolos. Era uma mulher que vivia com o coração aberto para o mundo".
Dino D' Santiago embarcou numa nova aventura musical com Kalaf Epalanga, que transporta o batuku e o funaná para um universo mais urbano. O primeiro single sai já a 20 de março. O espírito deste novo movimento? "O funaná é o novo funk, o novo grime, a nova soul, o novo hip hop".
Amor à flor da pele
Também Lura, que nasceu em Lisboa e se mudou há poucos anos para Cabo Verde, está na fase de pré-produção do seu novo disco, totalmente dedicado ao amor, e que deverá ser lançado em setembro. "Entretanto fui mãe e tenho o amor à flor da pele", disse à DW África.
Coube a Lura o encerramento da noite de homenagem à "diva dos pés descalços". Na plateia, um convidado surpresa: o compositor de "Sodade" Amândio Cabral, que veio de Los Angeles, nos Estados Unidos, onde vive, para o tributo.
"A Cesária Évora abriu portas para nós, para Cabo Verde e é preciso manter o seu nome vivo.", salienta Lura. "E aquecer um bocadinho o coração dos alemães que adoram a Cesária e que nunca mais vão ter oportunidade de ouvi-la. À nossa maneira, tentamos trazer aqui Cabo Verde e a memória da Cesária." E matar a "Sodade".