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Chanceler Angela Merkel visita África Ocidental

Daniel Pelz | ms
28 de agosto de 2018

A partir desta quarta-feira, a chanceler alemã visita a Nigéria, o Gana e o Senegal. Oficialmente, questões económicas estão no centro da viagem de Angela Merkel, mas o Governo Federal também tem outras intenções.

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Presidente Muhammadu Buhari vai receber chanceler Angela Merkel na NigériaFoto: picture-alliance/dpa/R. Jensen

África tem estado em destaque na agenda de Angela Merkel. Há duas semanas, a chanceler alemã recebeu, em Berlim, o chefe de Estado do Níger, Mahamadou Issoufou, e na semana passada o Presidente de Angola, João Lourenço. Agora, Merkel viaja até à África Ocidental.

Oficialmente, o objetivo da viagem é debater o fortalecimento da economia africana. "Essa perspectiva económica é crucial para a maioria dos países africanos, porque há muitos jovens que precisam de formação e de empregos", disse a chanceler. Mas nos bastidores, há outro tema que certamente estará na agenda da chanceler. "É relativamente óbvio que se vai abordar novamente a questão migratória", afirma o especialista alemão Andreas Mehler, em entrevista à DW.

João Lourenço otimista sobre comércio com a Alemanha

A escolha dos países a visitar fala por si. No ano passado, mais de 11.000 pessoas da Nigéria, do Gana e do Senegal pediram asilo na Alemanha. Atualmente, vivem na Alemanha 14 mil cidadãos destes três países, que oficialmente não teriam direito a permanecer por cá. Mas as deportações são caras e difíceis - segundo dados oficiais, muitas embaixadas africanas geralmente não emitem passaportes.

Há muito que o Governo alemão faz pressão por mais cooperação. "Insistimos no repatriamento voluntário antes da deportação", disse a chanceler alemã durante a visita a Berlim do Presidente do Gana, Nana Akufo-Addo, em fevereiro. Merkel e Akufo-Addo concordaram em cooperar mais para combater a migração ilegal. O Presidente ganês também pediu mudanças no modelo de cooperação: mais comércio em vez da "clássica" ajuda ao desenvolvimento.

Regresso voluntário e medidas coercivas

Durante a viagem à África Ocidental, Angela Merkel deverá melhorar a cooperação em matéria de deportações. No Gana e no Senegal, a Alemanha já está a financiar os chamados centros de aconselhamento sobre migração. Nesses locais, os migrantes que regressam de forma voluntária devem receber ajuda na procura de emprego. Outro destes centros deverá ser inaugurado este ano na Nigéria.

Symbolbild Flüchtlingsboot Mittelmeer
Milhares de afrcianos arriscam as suas vidas para chegar à EuropaFoto: picture-alliance/dpa/AP/S. Diab

Mas o sucesso destas iniciativas ainda não é visível. Apenas alguns migrantes voltam para casa voluntariamente. Segundo o Governo nigeriano, o Governo alemão propôs em maio conversações sobre um acordo de repatriação. "Perguntaram se futuramente poderiam emitir documentos de viagem, sem envolver a Embaixada nigeriana", disse na altura o ministro dos Negócios Estrangeiros da Nigéria, Geoffrey Onyeama. O Executivo nigeriano recusou a proposta.

Resolver problema da migração de forma diferente

Não deverá ser fácil o debate sobre esta questão com os chefes de Estado da África Ocidental durante a visita de Angela Merkel. Os países africanos querem resolver o problema da migração de maneira diferente.

"A maneira mais fácil e rápida de conter a onda migratória é melhorar a economia na Nigéria e a Alemanha pode desempenhar um papel importante", diz o cientista político nigeriano Garba Kare, em entrevista à DW. "A Alemanha pode dar à Nigéria muitos incentivos em termos de comércio, créditos, ajuda ao desenvolvimento e outras políticas de intervenção, para ajudar a travar os milhares de pessoas que chegam à Europa pelo Mediterrâneo e outras rotas migratórias", explica.

Chanceler Angela Merkel visita África Ocidental

Nas redes sociais, muitos leitores da DW têm uma opinão semelhante. "A Alemanha é líder mundial em formação vocacional e técnica e a chanceler deve ajudar a melhorar a nossa educação", escreve Ibarakumo Walson no Facebook da redação Inglês para África. Barimah Owusu-Boakye Mensah é ainda mais claro: "A Alemanha deve apoiar-nos através do comércio e da transferência de tecnologia, mas não através da ajuda ao desenvolvimento!"

É precisamente esse o objetivo da iniciativa "Compact with Africa", o projeto da presidência alemã do G20 que pretende tornar os países-membros africanos mais atrativos para investidores privados de todo o mundo. O Gana e o Senegal já participam. A Nigéria também gostaria de fazer parte da iniciativa. Mas os países também querem mais da Alemanha, porque muitas medidas previstas no programa só deverão concretizar-se a longo prazo.

Para quando os investimentos prometidos pela Alemanha?

Durante a visita de Merkel, os países africanos deverão pressionar por mais apoio da Alemanha, sobretudo mais investimento privado de empresas alemãs. No ano passado, o Governo alemão prometeu mais ajuda e isso gerou grandes expectativas em África. Na prática, no entanto, é tudo mais lento. O comércio externo entre Alemanha e África cresceu ligeiramente no ano passado, mas ainda é pouco expressivo. A Alemanha também exporta mais bens para África do que importa.

O Senegal, por exemplo, importou bens da Alemanha no valor de 117 milhões de euros, em 2017. Em contrapartida, as exportações não ultrapassaram os 17 milhões de euros. O senegalês Amacodou Diouf, que abastece os supermercados alemães com mercadorias do seu país, não acredita que o relacionamento mude tão cedo. "Para promover o comércio entre a Alemanha e o Senegal, os próprios senegaleses teriam de se envolver ainda mais", diz.

Angela Merkel viagem até à África Ocidental acompanhada por uma delegação de empresários alemães.