Chuvas em Maputo: "Vi um homem a ser arrastado pelas águas"
25 de março de 2024Intensas chuvas voltaram a fustigar as cidades de Maputo e Matola, dez dias depois da passagem da tempestade tropical "Filipo".
Casas alagadas, as principais vias de acesso intransitáveis, enormes crateras nas ruas, transportes suspensos, viaturas arrastadas pelas fortes correntes de água, escolas e comércio encerrados. Este é apenas um primeiro balanço, esta segunda-feira (25.03).
Domingos Jorge, residente na cidade da Matola, diz que tentou alertar um cidadão que insistiu em atravessar uma rodovia com a forte corrente de água, mas não conseguiu: "Vi o homem a ser arrastado pelas águas. Chegou até ao porto da Matola e foi embora", conta em declarações à DW.
No bairro periférico da Polana Caniço, na cidade de Maputo, uma vala construída depois das enxurradas de 2000 não resistiu à fúria das águas. Abriu-se uma enorme cratera.
Helena Sambo exige explicações ao governo. "Eles não estão aqui todos os dias. Temos de reclamar isto que está a acontecer. Se o não fizermos, quem irá fazê-lo?", questiona a residente.
Problemas antigos
Moradores da Matola-Gare, província de Maputo, colocaram barricadas junto à portagem na Estrada Circular. Eles exigem à concessionária, a Rede Viária de Moçambique (REVIMO), que construa valas de drenagem para evitar que a água das chuvas vá parar às suas residências.
"Nós queremos que a REVIMO venha ver o que está acontecer e crie condições para resolver esta situação. As pessoas que vivem nesta margem escoam água para a outra margem e há casas submersas", diz Regina Matusse.
António Machava, também residente na Matola-Gare, revela que a REVIMO já sabe do assunto.
"Já apresentámos o caso na REVIMO, mas até hoje não temos resposta. Não queremos muita coisa, só queremos a valeta", afirma.
INGD mobiliza apoios
No maior mercado informal da Praça dos Combatentes, esta segunda-feira foi um dia atípico, sem o movimento normal. As poucas pessoas que lá iam queriam material para mitigar efeitos das chuvas.
O terminal rodoviário ficou alagado nas primeiras horas e os transportadores de passageiros, vulgo "chapas", escasseavam.
A delegada do Instituto Nacional de Gestão de Desastres (INGD) na cidade de Maputo, Esselina Muzima, disse que ainda não há fundos para assistir as vítimas das enxurradas. Milhares de famílias foram afetadas.
"Há um défice, sim, porque estes eventos foram extremos", admitiu.
No entanto, as vítimas serão ajudadas, garantiu Esselina Muzima: "Naquilo que tínhamos preparado, já estamos a trabalhar. E estamos a mobilizar os nossos parceiros de cooperação das Nações Unidas. Aguardamos uma resposta."