G20: Encontro inédito China-EUA e ausência de Putin
13 de novembro de 2022A Indonésia vai acolher a cimeira do G20, o grupo das maiores economias mundiais, na terça-feira, em Bali, com um destacamento de segurança sem precedentes naquela que é conhecida como "ilha dos deuses", propensa a desastres.
Dezassete chefes de Estado e de Governo devem discutir soluções para uma série de crises globais na ilha hindu do país que tem a maior população muçulmana do mundo.
O Presidente russo, Vladimir Putin, não estará na cimeira, e será representado pelo seu ministro dos Negócios Estrangeiros, tal como o Brasil e o México. O tabu sobre a presença Vladimir Putin na ilha só foi desfeito na quarta-feira passada, quando o seu gabinete confirmou em definitivo que não iria a Bali. O Kremlin disse que a decisão foi tomada pessoalmente por Putin e justificou-a com razões de agenda e a necessidade de o Presidente permanecer na Rússia.
Na véspera, 9 de novembro, Moscovo tinha anunciado a retirada das suas tropas de Kherson, uma das quatro regiões que anexou ilegalmente desde que invadiu a Ucrânia, a 20 de fevereiro deste ano. Dois dias depois, a cidade de Kherson foi reconquistada pelas forças ucranianas com a ajuda das armas fornecidas pelos seus aliados ocidentais, como já tinha acontecido antes com outras regiões sob controlo russo.
Se fosse a Bali, além das críticas, Putin arriscava-se a ser olhado como um homem derrotado pelos líderes de uma parte significativa do "Ocidente coletivo" que tem acusado de querer destruir a Rússia, um papel que deixou para o seu chefe da diplomacia, Serguei Lavrov.
Biden e Xi frente a frente
Bali acolherá, na segunda-feira, véspera da cimeira de dois dias do G20, o muito antecipado encontro entre Xi Jiping e Joe Biden, o primeiro a nível pessoal como presidentes da China e dos Estados Unidos, já que se conheciam de outras funções.
Os líderes das duas maiores economias mundiais têm falado por telefone desde que Biden iniciou o mandato na Casa Branca, em janeiro de 2021, mas a pandemia de covid-19 tem impedido encontros "cara a cara". Até Bali.
Washington anunciou que Biden pretende sensibilizar Xi para desempenhar "um papel construtivo na contenção das piores tendências" da Coreia do Norte, a forma diplomática de pedir a Pequim que exerça a sua influência em Pyongyang, numa altura em que se receia que o regime de Kim Jong-un realize um teste nuclear.
A guerra comercial entre os dois países, as ameaças chinesas a Taiwan, a presença militar no Mar do Sul da China, os direitos humanos em Xinjiang e a guerra na Ucrânia (e as suas consequências para a economia mundial) deverão ser outros temas de conversa.
Xi poderá ter as suas questões, mas Pequim não revelou o que pretende falar com Biden.
O "clube dos mais ricos"
Criado em 1999, o G20 reúne 19 países (África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Rússia, Turquia e Reino Unido) e a União Europeia. A Espanha é habitualmente convidada para as reuniões do G20.
Em conjunto, o G20 representa 60% da população mundial, 80% do Produto Interno Bruto (PIB) global e 75% das exportações em todo o mundo, segundo dados da presidência indonésia do grupo.
Com tantos líderes numa ilha turística cuja economia ainda está a tentar refazer-se após dois anos de pandemia, Bali será, até quarta-feira, uma ilha de "deuses" terrenos. Haverá muitos encontros bilaterais e multilaterais, e também desencontros: Biden fez saber que não tem planos para estar com o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman, por considerar que Riade apoiou a redução da produção de petróleo para ajudar a Rússia.
A reunião do G20 poderá terminar sem um comunicado conjunto por causa da guerra na Ucrânia, como aconteceu no domingo, em Phnom Penh, na cimeira da Ásia Oriental, em que participaram alguns dos protagonistas de Bali, como Biden e Lavrov.