Cimeira Rússia-África: O que une a Rússia a Angola?
23 de outubro de 2019As "relações históricas" entre os dois países são um dos motivos que unem a Rússia a Angola, comenta o analista angolano Osvaldo Mboco.
"Depois do alcance da independência, boa parte dos quadros que assumiram cargos no aparelho do Estado foram formados por países de matriz socialista ou então comunista", comenta o especialista em relações internacionais em entrevista à DW África.
Mas também há interesses comerciais. Segundo a agência de notícias russa Tass, que cita o Kremlin, o volume de negócios bilateral entre os dois países aumentou 42% nos últimos sete meses, atingindo 34,8 milhões de dólares.
Na cimeira de Sochi, que decorre até quinta-feira (24.10), Angola e Rússia discutem o "aprofundamento da cooperação comercial e económica". Segundo a Presidência angolana, os dois países deverão assinar novos acordos, incluindo para a "formação de quadros e a implementação de uma indústria de fertilizantes em Angola".
Cooperação militar
O Presidente angolano, João Lourenço, já esteve na Rússia em abril, onde assinou outros acordos nos domínios espacial, pescas, aquicultura, justiça ou dos direitos humanos.
Para o analista Osvaldo Mboco, além destas áreas, Angola precisa de reforçar a cooperação militar com a Rússia: "Angola precisa de apoio técnico no setor militar e no setor da segurança. Não nos podemos esquecer que a Rússia é a segunda maior potência militar mundial e que também tem uma tecnologia bastante avançada".
À margem da cimeira de Sochi, está prevista uma feira de armamento, onde estará exposto o sistema de mísseis antiaéreos S-400, entre outros.
Promessas de Putin
Esta quarta-feira (23.10), na abertura do encontro, o Presidente russo, Vladimir Putin, garantiu a cooperação no setor militar e de segurança.
Putin prometeu ainda ajuda no combate ao ébola na República Democrática do Congo (RDC) e anunciou o perdão de 20 mil milhões de dólares de dívida: "O nosso país faz parte de uma iniciativa para reduzir o peso da dívida nos países africanos. Em conjunto com outros estados, criaram-se programas conjuntos para que o valor das dívidas possa financiar o crescimento económico nacional."
O analista Osvaldo Mboco assinala que a Rússia está ciente das "grandes potencialidades" do continente africano em termos de recursos naturais, tal como do enorme "mercado de consumidores", com cerca de 1,2 mil milhões de habitantes.
"A Rússia vê isso com bons olhos", diz Mboco. Por isso, está interessada em investir nesta cooperação.