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Comércio ilegal de marfim financia terrorismo em África

Laura-Marie Rothe / Cristina Krippahl 13 de setembro de 2013

Desde sempre, rebeldes exploraram diamantes e outras matérias-primas para financiar guerras no continente, mas em alguns países o alvo é cada vez mais o marfim. Um dos grupos ativos na caça furtiva é o ugandês LRA.

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Marfim confiscado é queimado por guardas num parque nacional no QuéniaFoto: picture-alliance/dpa

O primeiro encontro com os rebeldes do Lord's Resistance Army (LRA), ou Exército de Resistência do Senhor, em português, há quatro anos, foi um choque para Luis Arranz, diretor executivo do Parque Nacional de Garamba, no nordeste da República Democrática do Congo (RDC).

Inicialmente o LRA usava o parque apenas como zona de retirada, mas depois os combatentes começaram a abater elefantes para vender o marfim.

“Em Janeiro de 2009, fomos atacados por um grupo de 180 rebeldes no nosso quartel-general. Morreram 17 dos nossos colaboradores. Foram mortos pelo LRA. Também os rebeldes tiveram baixas”, conta Arranz, acrescentando que, desde então, há regularmente combates.

Prática antiga e rentável

Um dos países que durante muitos anos apoiou financeiramente o LRA foi o Sudão, mas a pressão internacional sobre Cartum aparentemente surtiu efeito. O marfim aparece como alternativa. A prática não é nova. Os rebeldes moçambicanos da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) recorreram a ela nos anos 80, fazendo negócio com marfim.

Volker Homes, da organização não-governamental Fundo Mundial para a Natureza (WWF, na sigla em inglês), diz que se a prática ilegal não é inédita, agora assume proporções assustadoras e há notícias de atividades que envolvem muita violência.

Elfenbeinhandel in Afrika
Elefante abatido no Quénia, país onde o alvo dos rebeldes é cada vez mais o marfimFoto: picture-alliance/dpa

“A caça furtiva contribui para agravar a violência, como, por exemplo, no Parque Nacional de Garamba. No Outono passado, foram chacinados mais de 20 elefantes num determinado local”, relata.

Segundo o WWF, a caça furtiva em África atingiu um triste recorde: só em 2012 foram massacrados 30 mil elefantes. O comércio ilegal de marfim volta a ser um negócio rentável. “O marfim está cada vez mais caro. E já começa a ser usado como investimento em partes da Ásia, o que é particularmente perverso. Hoje em dia, um quilo de marfim vale várias centenas de euros”, explica Homes.

Ameaça séria à paz

O problema da caça furtiva realizada pelos rebeldes é tão grave que foi tema de deliberações no Conselho Mundial de Segurança das Nações Unidas em Maio deste ano.

LRA Rebellen im Garamba Nationalpark Kongo
Rebeldes do LRA atacam frequentemente o Parque Nacional de Garamba, na República Democrática do CongoFoto: Getty Images/AFP

O secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, considerou a prática “uma ameaça séria” para a paz e a segurança na África central, devido a potenciais ligações da caça furtiva a outras atividades criminosas ou terroristas.

O LRA não é único grupo rebelde suspeito de matar elefantes. Nos Camarões, surgiram caçadores furtivos da milícia sudanesa Janjanwid e, no Quénia, suspeita-se do grupo terrorista al-Shabaab da vizinha Somália.

Apesar dos Estados Unidos da América e da União Africana (UA) apoiarem a luta contra o LRA, ainda não foi possível pôr cobro às atividades deste grupo famoso pela sua brutalidade. O diretor executivo do Parque Nacional de Garamba, Luis Arranz, duvida que algo mude rapidamente no Congo e conta com uma presença prolongada do LRA devido ao lucro fabuloso que garante o negócio ilegal do marfim.

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