Moçambique e Angola são palco de extermínio de elefantes
11 de abril de 2013Tanto Moçambique quanto Angola apelam por mais fiscalização e um combate efetivo à caça furtiva de elefantes e rinocerontes. Cristina Kapapo, administradora da comuna de Luiana, na província de Cuando Cubango, no sul de Angola, afirma que Luiana contabilizou mais de dez elefantes abatidos ilegalmente, desde o fim de 2012 até ao início deste ano.
A caça furtiva, segundo a administradora, tem que ser efetivamente combatida pelos poderes locais e centrais angolanos, para se salvaguardar o equilibrio biológico da zona.
Em Angola, os efeitos desta perseguição são claros para a as autoridades de Luiana. Muitos animais estão a migrar para países vizinhos como Namíbia, Botswana e Zâmbia, à procura de paz.
Contudo, para Julho Vidigal, o administrador municipal de Rivungo, vila e município do Cuando-Cubango, no sudeste do país, este abate indiscriminado não é visível e não está a provocar consequências ecológicas para Angola. "Acho que é uma preocupação que a administradora tinha, no sentido em que fossem tomadas algumas medidas para se evitar assistir ao abate indiscriminado de elefantes, sobretudo numa zona ou outra, mas são casos que têm sido muito isolados", avalia Vidigal.
O administrador de Rivungo diz ainda que, diariamente, a região recebe manadas "enormes" de elefantes. "Todos os dias entram pelo território de Angola e sobretudo pelo parque de Luiana, grandes manadas, tanto de elefantes, búfalos como outras espécies, e isso não alterou nada na correlação numérica da fauna do parque do Luiana", afirma Vidigal.
Caça ilegal de elefantes prejudica economia de Moçambique
Já em Moçambique, o cenário parece ser ainda mais preocupante. Nos últimos dois anos, são mais de 2.500 elefantes e rinocerontes abatidos pelas mãos de caçadores furtivos, principalmente em áreas de conservação. A denúncia vem da organização ambiental internacional WWF.
Segundo a WWF, Moçambique acabou por perder cerca de 21 milhões de dólares em receitas relacionadas com o turismo, pois esta perseguição aos animais está a provocar efeitos no equilibrio biológico nacional, mas também se está a traduzir em desequilíbrios económicos. "As indústrias do turismo desta região estão baseadas nos grandes mamíferos, na megafauna, que é única nesta zona", explica Helena Motta, diretora nacional da WWF em Moçambique.
"A partir do momento em que o turista começa a ter a imagem de que estes países são campos de matanças dessas espécies que são icónicas, é claro que isso começa a ter impacto na indústria, na indústria do turismo. As indústrias dependem basicamente dessas duas espécies", afirma Motta.
Para a diretora da WWF em Moçambique, este abate ilegal que busca explorar o marfim dos animais pode comprometer a população de rinocerontes no mundo. Em relação aos elefantes, Motta acredita ser uma espécie mais resistente, mas estratégias têm que ser definidas para controlar a caça furtiva porque "a caça não é seletiva. O que acontece é que são abatidas fêmas, são abatidos machos, são abatidos animais mais velhos, mais jovens. Os bebés são abatidos em primeiro lugar porque eles sabem que as mães ficam por perto do bebé morto e depois são um alvo mais fácil a abater", esclarece Helena Motta.
De acordo com a ambientalista, todo o sistema populacional de elefantes de Moçambique é afetado pela caça ilegal. "No momento em que começa a caça furtiva a perturbar uma determinada população, provoca um distúrbio imenso porque o elefante tem laços sociais muito fortes", afirma ainda a diretora da WWF Moçambique. "Então a caça não é só aquele momento físico em que uma série de animais são mortos (sic) naquele momento. A caça tem depois impactos que se vão sentir durante muitos anos", diz Helena Motta.