MCK e Ikonoklasta no "país do pai banana"
13 de março de 2017Cerca de 400 pessoas foram ver o concerto dos rappers Luaty Beirão e MCK que, por serem críticos do Governo angolano, têm sido constantemente impedidos pelas autoridades de cantar nas grandes salas de espetáculo de Angola.
Mas os dois jovens, que formam a dupla "Ikopongo", resistiram.
"Ikopongo significa resistência", explica Luaty, que no mundo do rap também é conhecido por Ikonoklasta.
Finalmente, no domingo, os rappers conseguiram montar o "show", aguardado há muito tempo. As entradas foram grátis.
O espetáculo durou quase duas horas. No palco, MCK e Luaty Beirão apresentaram os sucessos "Atrás do Prejuízo", "A Bala Dói", "O País do Pai Banana", entre outras músicas que já se tornaram "hinos" de protesto contra a governação do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o partido que, desde a independência, domina o poder em Angola.
O concerto foi realizado no "Complexo da Sovismo", onde se encontram as instalações da Rádio Despertar, no município de Viana, província de Luanda.
Rapazes e raparigas "curtiram bué" a atuação
Diandengue, um dos dos jovens que acompanharam o espetáculo do princípio ao fim, deu nota positiva: "Como diz o nome da dupla: Resistência! Uma vez barrados, eles resistiram até conseguirem realizar o que eles pretendiam", afirmou.
"O evento foi fixe", acrescentou Henriques dos Santos. "Porque quando a gente vai reivindicar algo, temos que ter mil maneiras e mil formas para poder levar a mensagem."
Isabel da Costa é uma das poucas mulheres que estiveram no concerto "Ikopongo". A jovem acompanha a carreira de Ikonoklasta e MCK há longos anos. Para ela, a música dos dois rappers ensina a sociedade a conhecer os seus direitos num país onde as leis são constantemente violadas.
"Têm feito um trabalho muito bom para a população", disse Isabel. "As suas músicas fazem as pessoas entender como funcionam as coisas e como reclamar os seus direitos. Infelizmente, estamos numa república não democrática, estamos numa república comunista. Aqui não aceitam as pessoas que pensam de maneira diferente, ao contrário deles. Por isso é que foram barrados."
"Felizmente o campo da Sovismo funciona como uma embaixada para aqueles que cantam para que haja uma boa governação", concluiu a jovem.
Previstos concertos noutros países lusófonos
MCK e Ikonoklasta são amigos há mais de 20 anos. A apresentação deste domingo, afirmam, "poderá ser a última no país", devido aos impedimentos.
Em declarações à DW África, o rapper MCK agradeceu o carinho que ambos receberam do público, e afirmou que a dupla poderá apresentar-se em Moçambique e também no Brasil nos próximos tempos.
"Atualmente há dois convites: Um para Maputo e outro para o Brasil", revelou. "Infelizmente, não atuaremos tão cedo no interior de Angola, porque não há liberdade. Se em Luanda há todas estas limitações, então imagine-se como será nas regiões mais afastadas", lamenta o artista, lembrando que já foi impedido de cantar nas províncias da Huíla e do Namibe em 2016.
"No ano passado, depois de dois concertos cancelados em Luanda, tive mais dois concertos cancelados: um no Lubango, a 18 de Novembro, e outro a 19 de Novembro, no Namibe. Não depende de nós, os artistas. O artista quer cantar sempre. Só que vivemos no país onde a democracia é embrionária e se fecha para a liberdade de expressão."