Covid-19: Corte de fundos à OMS por Trump vai afetar África
16 de abril de 2020"A Organização Mundial de Saúde (OMS) é um parceiro global e a organização na qual todos procuramos orientação e apoio. Por isso, o corte dos seus fundos irá definitivamente ter impacto na capacidade dos países de responderem adequadamente", disse esta quinta-feira (16.04) o diretor do Centro de Prevenção e Controlo de Doenças da União Africana (Africa CDC), John Nkengasong.
O Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou na terça-feira (14.04) que vai suspender a contribuição do país à OMS, justificando a decisão com a "má gestão" da pandemia provocada pelo novo coronavírus.
Trump acusou a organização de alinhar com as posições da China, que, segundo considera, ocultou a gravidade do vírus no momento do seu aparecimento, em dezembro.
O chefe de Estado norte-americano disse que os EUA contribuem com "400 a 500 milhões de dólares por ano" (entre 364 e 455 milhões de euros) para a OMS, em oposição aos cerca de 40 milhões de dólares (36 milhões de euros), ou "ainda menos", doados pela China à organização.
Chuva de críticas a Trump
O anúncio de Washington foi recebido com muitas críticas. O secretário-geral da ONU, António Guterres, sublinhou que este "não é o momento de reduzir o financiamento das operações" da OMS "ou de qualquer outra instituição humanitária que combata o vírus" SARS-CoV-2.
O presidente da Comissão da UA, Moussa Faki Mahamat, também já tinha dito que suspender os fundos para a OMS é "profundamente lamentável", tendo em conta que "o o mundo depende da liderança da OMS para orientar a resposta à pandemia da Covid-19."
A decisão anunciada por Donald Trump foi também condenada pela União Europeia (UE) e pelos governos da Rússia e da China. A UE considerou que "não há razão que justifique" a atitude. A Rússia classificou a decisão como "uma abordagem muito egoísta das autoridades norte-americanas em relação ao que está a acontecer no mundo."
OMS lamenta decisão dos EUA
"Lamentamos a decisão do Presidente dos Estados Unidos de ordenar o fim do financiamento da OMS", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, numa conferência de imprensa online, insistindo que este é o momento de o mundo estar unido.
Apesar da insistência dos jornalistas, Tedros Adhanom Ghebreyesus não disse que impacto terá na OMS o corte do apoio norte-americano, afirmando apenas que a OMS vai estudar esse impacto e a melhor maneira de compensar a falta desse dinheiro.
Quanto às críticas feitas por Donald Trump de "má gestão" por parte da OMS da crise mundial provocada pelo coronavírus, o diretor-geral da OMS disse que essa matéria será objeto de análise em tempo oportuno e que agora o foco "é parar o vírus e salvar vidas."
Afirmando que os Estados Unidos têm sido um "amigo generoso" da OMS, Ghebreyesus lembrou que a organização não luta apenas contra a Covid-19.
"O nosso compromisso para com a saúde pública, a ciência, e com o apoio a todas as pessoas do mundo, sem medo ou favor, permanece absoluto", garantiu.
Em todo o mundo, já há mais de dois milhões de infeções. Os Estados Unidos são o país com mais mortos e mais casos de infeção confirmados, seguindo-se a Itália, a Espanha, a França e o Reino Unido. Em África, o número de mortes subiu para 910 num universo de 17.212 infeções registadas em 52 países.