Covid-19 pode deixar Guiné-Bissau ainda mais pobre
17 de abril de 2020Os guineenses viram encerradas as suas atividades por terem de adotar medidas de prevenção contra a infeção pelo novo coronavírus. Apesar de reconhecerem a necessidade de prevenção, muitos cidadãos que trabalham em vários setores lamentam ter de ficar em casa para evitar o contágio com o novo coronavírus.
Alguns convivem com a impossibilidade de trabalhar para garantir o sustento da família. O país observa o estado de emergência até 26 deste mês. As autoridades, entretanto, podem renovar o decreto.
O impacto económico é negativo para a população, que vê as suas principais fontes de receita paralisadas. O economista Aliu Soares Cassamá avalia que o coronavírus está a ter um impacto desastroso no tecido empresarial guineense.
País sem robustez financeira
Cassamá destaca que a Guiné-Bissau não tem robustez financeira para minimizar os efeitos da pandemia de Covid-19. "Quase 90% da economia funciona com base na informalidade. O epicentro das transações comerciais, que é o Mercado de Bandim, movimenta por dia, um milhão de dólares, segundo alguns estudos que dispomos.", exemplifica.
No dia 20 de março, o executivo ordenou o fecho de todos os mercados e das fronteiras, para evitar a aglomeração e riscos de contágio. Esta decisão, lembra o economista, originou uma subida generalizada de preços, que resulta num aumento acentuado de inflação.
"Se a problemática da Covid-19 piorar, a situação económica do país, e por sinal, os resultados das atividades económicas resultantes da economia informal podem ultrapassar numa queda de oferta e da procura e, consequentemente, a economia guineense ficará mais pobre e continuará a divergir com alguns países da União Económica e Monetária do Oeste Africano (UEMOA)", prevê Aliu Soares Cassamá.
Outras vítimas da pandemia
Mesmo não estando infetadas, algumas pessoas também são vítimas do coronavírus. A empregada doméstica Celeste Hermenegildo Clode foi despedida. O seu patrão queria que residisse na casa onde trabalha porque desconfiava dos contatos pessoais da funcionária depois do trabalho.
"O meu patrão disse que eu tinha de ficar em sua casa. Disse que eu não poderia andar por aí. Eu disse que há carros que poderiam trazer-me ao serviço e depois levar-me de volta a minha casa. Mas ele não concordou e disse que podia haver risco de infeção", conta.
As atividades dos transportadores urbanos continuam suspensas e a crise está a afetar os motoristas profissionais. O taxista Cardelis Indami lembra que esta é uma categoria de profissionais que trabalha para ter almoço e jantar e não têm fundos como qualquer funcionário.
"O trabalho de táxi é muito difícil e, neste período em que estamos parados, penso que todos os taxistas sentem esta dificuldade", relata o taxista. "Cada pessoa que nos chama, a primeira coisa que diz é que o país não está bem, não há dinheiro, há fome em casa. Perguntam o que podemos fazer, mas não podemos fazer nada porque esta doença abala o mundo", lamenta.
Mudança de comportamento
A socióloga Cadija Mané acredita que a Guiné-Bissau deverá enfrentar vários desafios depois da pandemia e que o comportamento individual e coletivo dos guineenses deverá mudar. "Não devemos estar à espera que a pandemia acabe e voltar à nossa normalidade. Não vamos voltar à nossa normalidade. Daí que é importante encararmos esta situação com seriedade, para podermos cumprir com as medidas de prevenção. E quando formos à rua, temos de aprender a estar na rua, cumprindo com o distanciamento, não cumprimentando, não abraçar. Porque a pandemia trouxe-nos esta nova forma de ser", conclui.
Até agora, oficialmente, a Guiné-Bissau não regista nenhum óbito por Covid-19. A postura rígida das autoridades policiais para que as medidas do Governo sejam cumpridas estão a ser criticadas pelos cidadãos. Há denúncias de espancamentos por parte das forças policiais.