Crise RDC-Ruanda: Angola tenta aproximar as duas partes
12 de novembro de 2022O Presidente de Angola, João Lourenço, chegou ao Ruanda na sexta-feira (11.11) para tentar encontrar uma solução diplomática entre Kigali e Kinshasa sobre o ressurgimento dos combates no Leste da República Democrática do Congo (RDC), assolado por numerosos grupos armados.
Recentemente, o grupo rebelde M23, uma antiga rebelião Tutsi que pegou em armas nos finais de 2021, avançou para Goma, a principal cidade da região, alimentando as tensões entre a RDC e o Ruanda.
Kinshasa acusa Kigali de apoiar o M23, o que as autoridades ruandesas negam. O Ruanda, por sua vez, acusa a RDC - que também o nega - de conluio com a FDLR (Forças Democráticas de Libertação do Ruanda), um movimento rebelde Hutu ruandês.
No final de outubro, as autoridades congolesas expulsaram o embaixador ruandês.
Avanços do M23 e mediação angolana
Após várias semanas de calma, os rebeldes do M23 retomaram a sua ofensiva a 20 de outubro, conquistando várias localidades em território Rutshuru, na provícia de Kivu do Norte, incluindo Bunagana, uma cidade estratégica na fronteira com o Uganda, e ocupando localidades no caminho para a capital provincial, Goma.
O chefe de Estado angolano preside à Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL) e foi mandatado pela União Africana para encontrar uma solução para a crise entre a RDC e o Ruanda.
Em julho, numa cimeira mediada por Angola entre Paul Kagame e o seu homólogo congolês Felix Tshisekedi, foi elaborado um roteiro para pôr fim às hostilidades. Segundo o analista Henri Desire N'zouzi, o Presidente angolano pretende sobretudo reactivar este roteiro concluído em Luanda entre os presidentes Kagame e Tshisekedi.
Foram lançadas várias iniciativas diplomáticas para tentar aliviar as tensões, nomeadamente sob a égide da Comunidade dos Estados da África Oriental (EAC, na sigla em inglês), que decidiu destacar uma força regional para o leste da RDC.
Tropas quenianas na RDC
Na quarta-feira, o Parlamento queniano aprovou o destacamento de 903 tropas como parte da força regional da África Oriental para trazer a paz à região conturbada. Este sábado, os primeiros 100 soldados quenianos chegaram a Goma, enquanto os esforços diplomáticos prosseguem.
Um oficial queniano, o tenente coronel Obiero, disse aos repórteres que a missão das tropas é "conduzir operações ofensivas" ao lado das forças congolesas e ajudar a desarmar as milícias, bem como trabalhar ao lado das organizações humanitárias. O Programa Alimentar Mundial (PAM) lamentou na sexta-feira a pilhagem de cantinas escolares que apoia nas escolas de Rutshuru-Centre e Kiwanja, duas cidades detidas pelos rebeldes a norte de Goma.
De acordo com a ONU, pelo menos 188.000 pessoas fugiram das suas aldeias desde 20 de outubro e "mudaram-se para localidades mais calmas" no Kivu do Norte. Pelo menos outras 16.500 encontraram refúgio no Uganda.