1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Defensores da autonomia da Lunda Tchokwé procuram apoio na Europa

João Carlos (Lisboa)4 de março de 2014

Ativistas da região das Lundas, Angola, percorrem a Europa reivindicando a soberania do Reino Tchokwé, usurpada pelo Governo de Angola. Eles buscam apoio para a causa e contra as violações dos direitos humanos.

https://p.dw.com/p/1BJLo
Livro de Chantal Alidor sobre a Lunda TchokwéFoto: DW/J. Carlos

Na semana passada dois dos ativistas estiveram em Lisboa, Portugal, para falarem com os deputados portugueses sobre a reivindicação do povo da “Nação Tchokwé”, ignorada pelos órgãos de soberania angolanos.

O Movimento do Protetorado das Lundas vai continuar a reclamar com persistência a autonomia da Nação Tchokwé: "Nós estamos determinados, queremos que as autoridades angolanas, juntamente com o Governo português, reconheçam que este é um protetorado, é um país independente. E, sendo assim, queremos que haja negociações connosco.”

O reino Tchokwé vigorou entre 25 de julho de 1885 e 25 de maio de 1894 e nada tinha a ver com Angola, explica Mubuabua Yambissa, representante do Protetorado Lunda na Europa, a fazer doutoramento em Londres, Inglaterra.

Aquando da assintura do Acordo de Alvor, em 1975 no Algarve, a existência do protetorado foi ignorada, acrescenta.

Autonomia e não independência

Symbolbild Diamantensuche Afrika
As lundas são regiões ricas em diamantesFoto: Alexander Joe/AFP/GettyImages

Uma independência já reclamada em 2007 junto de orgãos de soberania do Estado de Angola, entre os quais a Presidência da República, a Assembleia Nacional e os Tribunais: “Em 2007 demos entrada do manifesto, entregamos a carta ao Presidente da República, as autoridades angolanas para reabilitarem as negociações sobre o Protetorado e o Presidente tentou dar uma iniciativa e de repente começaram a prender pessoas, metê-las nas cadeias, era uma intimidação, de modo que não podíamos avançar.”

Mubuabua Yambissa esteve na semana passada em Lisboa acompanhado de Chantal Alidor, para abordarem as autoridades portuguesas sobre a autodeterminação da Lunda Tchokwé: “Os nossos pais eram analfabetos, morreram e não fizeram nada e nós, como seus filhos, tentamos descobrir o que foi escondido, razão pela qual achamos melhor conversar. Nós trocamos a independência pela autonomia, porque primeiro, nascemos muitos em Angola e os angolanos também nasceram aí e temos uma irmandade."

Por isso, o ativista defende a autonomia e questiona: "Achamos que independência não seria bem, mas valeria a pena pedirmos uma autonomia. Autonomia não significa independência, então porque o Estado angolano não quer essa autonomia?”

Ouvir explicações de Portugal

Ambos foram recebidos pelo ex-presidente Mário Soares e por um grupo de deputados da Assembleia da República Portuguesa. Precisa Yambissa: “Viemos conversar com algumas autoridades portuguesas para que nos expliquem sobre o caso Lunda, o que aconteceu, e porque eles anexaram a nação Tchokwé, Protetorado da Lunda à Angola.”

Os representantes das Lundas estão a mobilizar apoio internacional com vista a pressionar o Governo de Angola a reconhecer o erro cometido no passado em defesa de uma causa que consideram legal e justa.

Angola Mubuabua Yambissa
Mubuabua Yambissa, defendor da autonomia da Lunda TchokwéFoto: DW/J. Carlos

Entre a documentação mostram um mapa da época que delimita o Reino Tchokwé. Querem por isso o envolvimento de Portugal, na qualidade de antigo país colonizador, para que seja encontrada uma solução negociada com as autoridades de Luanda –, adianta o representante do movimento.

Violação dos direitos humanos

Angola Chantal Alidor
Chantal Alidor (esq.) e Mubuabua Yambissa, ambos ativistas da Lunda TchokwéFoto: DW/J. Carlos

Por outro lado, Chantal Alidor lamenta os atos de violação dos direitos humanos na região das Lundas, rica em diamantes: “A guerra já acabou, mas as pessoas continuam a morrer, as nossas mães não conseguem cultivar, basta lhes apanharem a cavar é porque querem cavar kamanga (diamantes), e matam-nas."

E Alidor prossegue, relatando as dificuldades nessa região: "Muitas delas atravessam as fronteiras e vão cultivar no Congo. Saem as 4 da manhã e regressam a casa as 22 horas, isso é muito triste. E a comunidade internacional vê isso e não se pronuncia.”

Depois de Lisboa, os representantes do protetorado seguiram para França, Bélgica e Alemanha com o mesmo objetivo. Recentemente, em entrevista à DW, a europedutada portuguesa, Ana Gomes, criticou as torturas e os assassinatos na região das Lundas.

A eurodeputada socialista disse na altura ao Secretariado do seu partido que era o momento de "levantar as objeções" à entrada do MPLA, o partido no poder em Angola, na Internacional Socialista, objetivo desejado há 11 anos pelo partido. Iniciativa também apoiada pela UNITA, maior partido da oposição angolana.


[No title]