Desalojados de Muvale "entregues à sua sorte"
11 de dezembro de 2013As mais de três mil familias realojadas em 2010 na zona do Muvale, no Município da Matala, província da Huíla, Sul de Angola, estão entregues à sua sorte.
No âmbito da reabilitação dos Caminhos de Ferro de Moçâmedes, CFM, as pessoas foram obrigadas pela Administração Municipal da Matala a abandonarem as suas residências com a promessa de receberem terrenos e material de construção.
Volvidos três anos e oito meses os populares queixam-se da falta de luz elétrica, água canalizada, serviços de saúde, escolas e um posto da polícia nacional.
Na sua maioria são ex-militares que esperam pela revalidação das suas patentes há 21 anos.
Entre eles encontramos António Tchimuco, major das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, FAPLA, pertecente antigamente ao braço armado do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), incorporado em setembro de 1979 e desmobilizado na sequência dos acordos de paz em 1992.
Ausência das autoridades
Hoje este ex-militar sobrevive do serviço de moto-taxi, vulgo "Kupapata", para poder sustentar os seus seis filhos.
Natural do Município de Caconda, pertenceu ao sexto regimento. Com os seus vizinhos do Bairro Comandante Cowboy, António Tchimuco foi parar no bairro Muvale em 2010.
Tchimuco lembra das promessas da adminstração: "Meteram-nos ali com garantias que até hoje nunca foram cumpridas. Essas promessas diziam respeito primeiro à energia, água e casas bem construídas... mas estamos a ver que logo no princípio da época das chuvas deste ano as casas começaram a cair."
Face à situação o ex-militar interroga: "O Governo vê, não pergunta, não visita, então põe-nos em pânico. Somos angolanos e merecemos direitos iguais. Estamos a ver que estamos atirados à sorte do diabo e não temos como sair desta situação."
Desde o início sómente receberam, de acordo com dona Maria Mutango, "apenas chapas para cobertura que não chegaram para todos". Também a energia elétrica é um problema: "Não temos luz passamos mesmo mal. Estamos a comprar postes. assim a minha vizinha e eu dividimos as despesas, tambem vamos compar fios para podermos ter em casa energia elétrica."
Outro morador do bairro é José Silvestre Valentim ex-militar das Forças Armadas de Libertação de Angola, FALA pertecente outrora à UNITA (União Nacional Para a Independência Total de Angola) também desmobilizado em 1992 como soldado.
A lista dos problemas
Relata como era no começo: "Tínhamos apoio no abastecimento de água na altura em que estavámos a construir aqui as nossas casas. No tempo de seca, a partir de setembro, outubro, começaram os problema com a falta de água."
Quanto à saúde José Silvestre diz: "Se estivermos gravemente doentes somos obrigados a ser evacuados para o centro municipal, e quando este não consegue detetar a doença somos evacuados do centro municipal (de saúde) para o Hospital central do Lubango."
Mas este processo envolve riscos, como conta uma das residentes: "Se alguém ficar muito doente não dá para ser transportado porque vai acabar por morrer no centro médico. Aqui estamos muito distantes da vila", concluiu.
E por causa das chuvas outra residente conta: "Há casas que estão cair e as pessoas ficam sem um teto para se abrigar."
Outro morador lista mais dificuldades: "Não temos posto médico, não temos segurança policial e depois as pessoas vivem de sorte própria. As ajudas não chegam apesar das promessas feitas no passado."
Em resposta a este quadro preocupante, o administrador municipal da Matala, Miguel António Paiva Vicente, diz que a sua adminstração tem trabalhado em nome do bem estar das populações: "Temos estado a melhorar bastante o bem estar social da população e isto já nos põe bastantes satisfeitos."
Situação idêntica acontece nos municípios de Kaluquembe e Quilengues, ambos pertecentes à província da Huíla.