Descobertos 13 corpos abandonados no centro de Moçambique
28 de dezembro de 2017Os corpos foram descobertos há quase uma semana (22.12) por populares perto de um posto policial na localidade de Bencanta, no distrito de Cheringoma, a cerca de 200 quilómetros da cidade da Beira.
As autoridades governamentais foram informadas do ocorrido pela população e desconhecem a origem dos mesmos, mas aventa-se a hipótese de serem cidadãos somalis.
Segundo o jornal "O País", as vítimas terão morrido asfixiadas num camião contentorizado que fazia o trajecto norte-sul. O motorista terá largado os imigrantes na mata, no local onde mais tarde foram encontrados os corpos.
"Os 13 corpos foram encontrados perto de uma estação de comboios, onde se encontra uma posição militar", contou à DW África uma testemunha que pediu para não ser identificada por motivos de segurança. Disse ainda que esteve na localidade na segunda-feira (25.12) para "enterrar os corpos numa vala comum".
"Até agora, não temos detalhes de como aconteceram as coisas", explica a testemunha ouvida pela DW África, que afirma ter visto outros rastos no local onde jaziam os corpos. "Havia sinais de terem sido descarregados e o carro [que os largou] continuar a andar".
Origem dos corpos
A imprensa moçambicana adiantou que as vítimas provavelmente seriam imigrantes ilegais somalis, a julgar pelos documentos encontrados no local, e que os corpos estão em avançado estado de decomposição.
Na terça-feira (26.12), peritos de saúde e elementos da Procuradoria provincial de Sofala estiveram no local para averiguar o caso. Uma fonte da Procuradoria de Sofala que pediu anonimato disse esta quarta-feira (27.12) aos jornalistas que as autoridades do distrito de Cheringoma receberam uma denúncia, tendo lavrado em seguida um auto contra desconhecidos.
"A informação chegou incompleta. Não sabemos quantos são nem exatamente quem são", declarou a fonte da PGR. "Neste momento, está lá uma equipa que conta com a Procuradoria e uma equipa da polícia e medicina legal", acrescentou.
O elemento da Procuradoria de Sofala excusou-se a avançar quaisquer detalhes sobre o estado e a identificação dos corpos. "Nós estamos vedados a falar antes que a medicina legal diga o que é que aconteceu com os corpos, mesmo que aparentem violência ou qualquer coisa não caberá a nós dizer isso sem que haja perícia", disse.
"Esquadrões da morte"?
O jornalista freelancer Edwin Hannou não acredita que os corpos sejam de refugiados somalis, como tem se vinculado nas redes sociais. "Como é que se identifica que este é somali, este é burundês ou é moçambicano?", pergunta o jornalista. "Não há nenhuma prova que aqueles cidadãos mortos são somalis", sublinha.
Para Edwin Hannou, os corpos encontrados podem sugerir que os chamados "esquadrões da morte" foram reativados. "Podem ter sido somalis ou mesmo cidadãos nacionais que foram raptados, mortos e atirados ali próximo, porque Inhaminga e Gorongosa são zonas de confrontação entre a RENAMO e as forças de segurança", explica.
Edwin Hannou diz ter informações de que os "esquadrões da morte" foram reativados no país e, por isso, qualquer suspeito pode ser raptado em qualquer sítio. "Aqueles cidadãos podem ter sido potenciais colaboradores da RENAMO e, por isso, raptados, mortos e atirados naquele lugar", sublinha o jornalista.
Em outubro do ano passado, no mesmo distrito, foram encontrados no interior de uma viatura na localidade de Nangue corpos carbonizados de nove cidadãos bengalis. Até hoje, o caso não foi esclarecido.