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"Desculpas" para adiar as eleições na Nigéria

Thomas Mösch / Maria João Pinto18 de fevereiro de 2015

A Nigéria devia ter ido a votos a 14 de fevereiro. Mas as eleições foram adiadas por seis semanas – para combater o grupo radical Boko Haram, segundo a justificação oficial. Mas os críticos dizem que há outros motivos.

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Presidente nigeriano, Goodluck JonathanFoto: picture-alliance/AP

Murna Philips é uma das pessoas que ficaram satisfeitas com a decisão da Comissão Eleitoral Nacional Independente (INEC) de adiar as eleições presidenciais e legislativas para 28 de março. Ela foi uma das centenas de milhares de nigerianos que foram obrigados a fugir de suas casas devido à violência do Boko Haram, no nordeste do país.

"Ficámos muito contentes quando ouvimos que as eleições foram adiadas, eles disseram que talvez acabariam com o Boko Haram. Talvez possamos regressar a casa e votar lá."

A Comissão Eleitoral afirmou que o exército e a polícia, a braços com o combate ao grupo extremista islâmico Boko Haram, não poderiam garantir a segurança do escrutínio.

Alltagsleben im Flüchtlings-Camp Malkohi, Nigeria
Campo de refugiados em Malkohi, na NigériaFoto: DW/J.-P. Scholz

Fora dos campos de refugiados, poucos aplaudiram o adiamento das eleições. Na sua maioria, aqueles que vêem com bons olhos a decisão da INEC são apoiantes do Partido Democrático do Povo, liderado pelo Presidente nigeriano, Goodluck Jonathan.

Os membros do PDP tinham já solicitado um adiamento das eleições, apontando o dedo às alegadas falhas da Comissão Eleitoral na preparação do escrutínio, críticas que a comissão sempre rejeitou. Por isso, a decisão de adiar o escrutínio foi uma surpresa para o advogado Aisha Abdullahi.

"A comissão deixou claro que estava preparada. Os serviços de segurança nunca deram a entender que não seriam capazes de cumprir as suas tarefas. E, de repente, o presidente da Comissão Eleitoral diz que recebeu uma notificação das forças de segurança, afirmando que não estariam disponíveis porque estavam a lutar contra o Boko Haram", afirma o nigeriano.

"Durante todo este tempo não foram capazes de combater o grupo e é no dia das eleições que decidem entrar em campo?"

Uma questão de independência

Hussaini Abdu
Ativista dos direitos civis, Hussaini AbduFoto: Hussaini Abdu

Hussaini Abdu, que dirige o gabinete nigeriano da organização internacional de defesa dos direitos civis Action Aid, também estranhou o adiamento das eleições. "Este processo está a minar a independência da Comissão Eleitoral, porque foi levado a cabo pelos militares. A comissão foi obrigada a fazer esta escolha. É lamentável."

Este ano, a oposição tem, pela primeira vez desde o retorno da democracia à Nigéria, em 1999, uma oportunidade efetiva de tirar o PDP do poder – se as eleições decorrerem de forma justa e transparente.

O atual presidente da Comissão Eleitoral, Attahiru Jega, distinguiu-se, há quatro anos, pela organização de eleições mais limpas do que aquelas realizadas pelos seus antecessores.

Mas, nos últimos dias, multiplicaram-se os apelos dos membros do partido no poder para a demissão de Jega, por alegadamente estar a compactuar com a oposição. Na realidade, dizem as vozes críticas, a decisão de adiar as eleições serviria apenas para abrir caminho à manipulação dos resultados.

Por outro lado, o plano para tentar derrubar o presidente da Comissão Eleitoral é visto por vários analistas como a razão mais provável para o adiamento das eleições para 28 de março. Essa é uma acusação que Presidente nigeriano rejeita.

"Quero assegurar os nigerianos de que as eleições terão lugar e um novo Governo será empossado a 29 de maio deste ano. Não se deixem confundir por histórias falsas, como a de que o presidente da Comissão Eleitoral será enviado para umas férias sem retorno e substituído por alguém que vai manipular as eleições. Isto é um completo absurdo", afirmou Goodluck Jonathan.

[No title]

Com os ataques do Boko Haram e os rumores de uma possível manipulação das eleições por parte do PDP, cresce o receio de um escrutínio violento.

Esta terça-feira (17.02), o líder do Boko Haram, Abubakar Shekau, prometeu impedir a realização das eleições de 28 de março na Nigéria, num novo vídeo divulgado após dois atentados suicidas no nordeste do país, atribuídos ao grupo, que fizeram 38 mortos.

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