Dhlakama quer "ensinar" FRELIMO a governar
14 de janeiro de 2016O líder do maior partido da oposição moçambicana diz que já tem uma lista de todos os governadores e administradores distritais nas seis províncias do norte e centro do país, onde a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) reivindica vitória desde as eleições gerais de 15 de outubro de 2014.
"Antes de chegarmos aí, o governador arruma as suas coisas e entra no avião e vai-se embora. Enquanto está a acontecer em Nampula, o mesmo vai acontecer em Sofala, Tete, Zambézia, Manica e Niassa", anunciou Afonso Dhlakama, que falava esta quinta-feira (14.01) numa teleconferência num hotel de Nampula, a partir da sua base militar de Satunjira, no distrito de Gorongosa, província central de Sofala.
O presidente da RENAMO promete dirigir as províncias de forma ordeira e pacífica, mas alerta que não vai tolerar as intimidações da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, no poder) porque vai responder em pé de igualdade.
E também deixou claro que não está interessado no retorno à guerra. "Depois daqueles ataques em que escapei à morte, eu já teria destruído tudo. Não o quero fazer porque não me quero vingar da FRELIMO", declarou Dhlakama, que diz preferir "ensinar a FRELIMO a governar" através da democracia e da reconciliação nacional. "Quero acreditar que a governação da RENANO vai permitir o desenvolvimento de Nampula e do país", acrescentou.
Novos mediadores
Comentando a exclusão do diálogo dio académico Lourenço do Rosário e do bispo reformado Dom Dinis Sengulane, os antigos mediadores, o líder da RENAMO disse que o seu partido vai distanciar-se destes porque já não são fiéis e trabalham sob controlo da FRELIMO, estando, por isso, "obrigados" a obedecer à disciplina partidária do partido no poder.
"Já não tinham moral para continuar como mediadores e facilitadores", justificou Dhlakama, explicando que propôs como novos mediadores a Igreja Católica - "porque, no passado, foi mediadora em Roma" - e o Presidente da África do Sul, Jacob Zuma.
A África do Sul é um país que enfrenta atualmente uma crise económica e política. Mas para o líder da RENAMO, estes problemas não vão, de forma alguma, comprometer as negociações. "Os seus problemas internos não têm nada a ver com a mediação. Zuma tem capacidade para mediar uma negociação entre a RENAMO e o Governo. Acredito nele".
Jacob Zuma pertence ao Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês), partido no poder da África do Sul com ligações históricas à FRELIMO. Porém, Afonso Dhlakama desdramatiza e diz que a sua escolha não contempla as inclinações ideológicas do chefe de Estado sul-africano.
"Qualquer pessoa no mundo tem o seu partido, mas o que nόs queremos é ser realistas no momento de realizar ações", frisa. "Zuma ficou anos em Maputo no tempo do apartheid, mas hoje é chefe de Estado, foi eleito democraticamente e representa os interesses do povo sul-africano. Acredito na isenção dele".
Encontro com Nyusi
Por outro lado, o líder da RENAMO deixa também espaço para um encontro com o Presidente da República, Filipe Nyusi, embora continue a colocar algumas condições. "Primeiro temos de começar a governar as nossas províncias", sublinhou, explicando que só depois uma delegação da RENAMO deverá sair das províncias para negociar com a FRELIMO.
Desde o ano passado, o Governo moçambicano tem vindo a anunciar, através dos órgãos de comunicação social, a entrada de homens supostamente da RENAMO nas fileiras das Forças de Defesa e Segurança, à luz do acordo de cessação das hostilidades militares assinado entre Afonso Dhlakama e o então Presidente da República, Armando Guebuza.
No entanto, o líder do principal partido da oposição em Moçambique nega que sejam elementos do seu partido."Ninguém está a fugir da RENAMO para as fileiras da FRELIMO. São os próprios jovens recrutados nas escolas que fogem das fileiras das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) que vão entregar as armas".
Dhlakama, que não é visto em público desde 9 de outubro, dia em que forças especiais da polícia moçambicana cercaram e invadiram a sua casa na Beira, não revelou quando pensa sair das matas para voltar ao convívio dos seus familiares, membros do seu partido e o povo em geral, mas assegurou que o seu regresso está para breve.