Discurso de posse de JLo: "Apenas para cumprir formalidade"
16 de setembro de 2022Vago, com frases para agradar aos parceiros externos e pouco focado nos problemas concretos dos angolanos. É assim que o professor Maximino Katchekele descreve o discurso de tomada de posse do Presidente João Lourenço, na quinta-feira (15.09).
"Infelizmente, não foi um discurso que poderia se reverter naquilo que é a necessidade do povo angolano. Nós ainda assistimos a população a morrer de fome, de sarampo, malária. Assistimos a vários hospitais que ainda não têm medicamentos", relata o professor.
É certo que o Presidente prometeu ir à procura de "soluções para os principais problemas do país" e combater "vícios" e "más práticas" enraizadas nas instituições do Estado. Mas para Maximino Katchekele, foi um discurso muito vago, por vezes até contraditório.
"João Lourenço prometeu proteger a flora e a fauna, mas Angola aposta na exploração de petróleo e na produção de seus derivados", recorda.
E as autarquias?
O facto de João Lourenço não ter falado sobre as autarquias também inquieta o professor, que diz que "Cabo Verde desenvolveu graças ao poder local". Mas Katchekele ainda tem esperanças que, com a realização das autarquias, "sobretudo nós aqui no Cuando Cubango possamos ter desenvolvimento".
O padre Jacinto Pio Wacussanga também notou o silêncio de João Lourenço em relação às autarquias.
Em entrevista à DW, Wacussanga diz que gostaria de ter ouvido o Presidente a falar sobre a democracia local, a reforma do Estado, a despartidarização das instituições públicas, leis que beneficiem a sociedade e grandes investimentos para acabar com a pobreza no país. Gostaria também de ter ouvido mais sobre o combate à corrupção – João Lourenço disse apenas que prosseguiria o trabalho que tem sido feito até aqui.
"Se não temos estas coisas, que constavam da aposta anterior, não temos democracia. Tenho realmente a impressão que foi apenas um discurso para cumprir uma formalidade", afirma.
"Torre de marfim"
Jacinto Pio Wacussanga, coordenador da Plataforma Sul, um conjunto de organizações não-governamentais da região centro e sul do país, lamenta que o Presidente da República não tenha conseguido sair da sua "torre de marfim".
"O Presidente da República e o seu pelouro têm um grande défice de compreensão do país".
O jornalista Domingos Figueiredo diz que gostaria de ter ouvido João Lourenço a falar sobre a situação da liberdade de imprensa e expressão em Angola, que se tem deteriorado, de acordo com o profissional.
Já sobre as autarquias, Figueiredo não acredita em mudanças, pelo menos para já. O MPLA acaba de sofrer uma pesada derrota na maior praça eleitoral do país, Luanda - a UNITA venceu com mais de 62% dos votos, segundo os dados da CNE.
E as autarquias pressupõem "divisão de poderes", diz Figueiredo. "Por isso, o MPLA recuou sempre quanto à sua implementação. Com este resultado que obtiveram, acredito que isso não esteja nas prioridades do MPLA", conclui.