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Rappers e blogueiros chamam os jovens para o voto consciente

6 de agosto de 2012

Ativistas pedem para que a juventude analise as propostas políticas dos candidatos e votem naquelas que se aproximam mais dos ideais de democracia

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O rap do MCK, um ativista atento à realidade do seu país, revela o desejo de muitos angolanos. Eles não querem mais viver na favela, querem morar em casas de luxo, em Talatona, bairro nobre de Luanda, como canta na música "Eu quero morar em Talatona". A maioria da população, na verdade, quer mesmo o básico: água, energia elétrica, saúde, educação, moradia adequada, liberdade de expressão... E não há momento melhor para reivindicar por essas e outras necessidades: a campanha eleitoral para as eleições gerais do país começou no último 31 de julho, e as promessas de uma Angola melhor e mais igualitária ecoam nas ruas das cidades. O povo vai às urnas no dia 31 de agosto para escolher seus deputados, o vice-presidente e o presidente da nação. A dúvida da maioria dos jovens, agora, é se será possível pensar, depois disso, em um futuro diferente para o país.

No entanto, MC Marshall Kamba Dya Muenho, também ativista angolano, que vê seu país ser governado pelo mesmo presidente a 32 anos, faz suas ressalvas, um dia após o início da campanha, sobre o terceiro ano de eleições em Angola desde a independência do país, em 1975.

“A campanha começou oficialmente ontem (31 de julho), mas o partido no poder já vem há dois anos fazendo a sua campanha. Eu vejo que essa campanha é deturpada, porque essa é uma campanha muito mais a favor do partido no poder”, ressalta o rapper.

De olho nas promessas dos candidatos

Marshall refere-se ao partido MPLA, cujo representante maior é o atual presidente do país, José Eduardo dos Santos. MCK também é direto ao fazer críticas ao processo eleitoral, e faz observações às promessas de campanha dos candidatos à disputa pelo poder. No total, nove partidos e coligações vão constar nos boletins de voto e disputar a preferência de cerca de nove milhões de eleitores.

Der angolanische Rapper MCK (manchmal auch MCKappa genannt) während eines Konzertes in Angola. Copyright: MCK Luanda, Angola, 2012
Rapper MCK aus AngolaFoto: MCK

“A promessa do partido no poder é de continuidade. O MPLA promete produzir mais para distribuir melhor. A mim chama a atenção o fato do MPLA não ter cumprido, no meu ponto de vista, nem 50% das promessas eleitorais de 2008, apesar de sempre ter tido o privilégio de usufruir dos recursos do Estado. Pelo contrário: assistimos a um enriquecimento assustador, ilícito e injustificado de pessoas à frente do poder, pessoas ligadas à presidência da República. Assistiu-se a um conjunto de promessas como a construção de um milhão de casas, e o partido esteve muito longe de alcançar esta promessa. Temos estradas arrebentadas, edifícios de má qualidade... A oposição, como não podia deixar de ser, faz a promessa da mudança. A oposição está prometendo mudar o atual quadro, oferecer mais saúde, mais educação, mais qualidade de vida. Eu senti isso depois da exposição dos seus programas”, aponta MCK.

Nem todas as pessoas, no entanto, tem a mesma consciência sobre a proposta dos candidatos de oposição. E não é por falta de interesse. MCK ressalta que o MPLA usufrui dos serviços noticiosos públicos para fazer campanhas constantes, o que não acontece com os outros partidos.

“Temos assistido, por parte do partido no poder, a utilização de muitos meios públicos para fazer campanha, como os autocarros, o caráter obrigatório de participação dos funcionários públicos em seus atos... Há uma confusão de generais que aparecem com camisolas do partido no poder, desrespeitando a constituição e a lei... Nessa altura da campanha eleitoral, tinham que separar a publicidade, a propaganda governamental e oferecer igual tratamento aos partidos políticos: o mesmo tempo de antena, as mesmas oportunidades, para o cidadão não ficar confuso e votar de forma consciente, fazer o voto livre”, complementa MCK.

Jovens discutem propostas nas ruas e na internet

Críticas e manifestações que defendem eleições democráticas acontecem nas ruas e, principalmente, na internet. Blogueiros e rappers estão juntos nesta campanha paralela em favor do voto livre. Músicas, palavras, discursos. A esperança de mudança é forte entre os jovens, conta o ativista e colaborador de blogs, Jeremias Manuel Augusto, também conhecido como Explosivo Mental.

“Os jovens aqui estão ativos. Estão a lutar pela liberdade de expressão, pela democracia, que é uma coisa que o país há muito tempo não tinha, nem demonstrava, era tudo no papel. Os jovens agora vão para as ruas, fazem manifestação. Exigem o que querem de alguma forma, apesar de levarem cacetadas, pancadas... Apesar de alguns irem para a prisão e serem sentenciados injustamente”, conta o rapper.

Titel: Angolan President Visits Germany Bildunterschrift: BERLIN - FEBRUARY 27: Angolan President Jose Eduardo dos Santos walks through the city center on February 27, 2009 in Berlin, Germany. Dos Santos is on a two-day official visit to Germany. (Photo by Sean Gallup/Getty Images) Erstellt am: 27 Feb 2009 Editorial-Bild-Nummer: 85141457 Beschränkungen: Bei kommerzieller Verwendung sowie für verkaufsfördernde Zwecke kontaktieren Si
O MPLA, partido do atual presidente do país, José Eduardo dos Santos, não cumpriu muitas promessas eleitorais, aponta MCKFoto: Getty Images

E ele tem motivos pessoais para entrar nesta luta. Quando criança, perdeu o pai e a mãe e foi despejado de casa, depois que o governo destruiu sua residência para iniciar um empreendimento no local. Foi então que o rap, estilo musical usado por muitos artistas para protestar, foi apresentado a ele pelo irmão, para que não ficasse sozinho e se sentisse mais alegre, mesmo diante das dificuldades. A partir daí, surgiu a vontade de fazer reivindicações, por meio da música, em nome de todos que tinham a mesma sensação: a de que a pátria havia abandonado seu povo na miséria.

Medo ainda faz com que muitas pessoas fiquem caladas

E em uma manifestação pública, pagou o preço alto, que muitos pagam quando vão às ruas gritar por socorro. Quando pedia por água e eletricidade para as comunidades carentes, em setembro do ano passado, foi preso e maltratado.

“Alguns foram agarrados, espancados, presos. Ficamos quatro dias ou cinco na cadeia e as famílias nos procuravam... Nos atiravam de uma cadeia para outra, de uma cela para a outra, quase sem comer. Quando você reivindica o direito de todos, que é devido, te prendem, você vai para a cadeia, você recebe ameaça, alguém da família é raptada... É complicado viver em um país ditatorial, mas a gente nasceu aqui e é para morrer por uma razão, por uma causa”, desabafa Marshall.

Demonstranten protestieren in Benguela (Süd-Angola) gegen die Ernennung von Suzana Inglês zur Chefin der Nationalen Wahlkomission Angolas (CNE) und gegen die Regierung der herrschenden Partei MPLA unter Präsident José Eduardo dos Santos. DW/ Nelson Sul D’Angola Wann wurde das Bild gemacht: 13.02.2012 Wo wurde das Bild aufgenommen: Benguela (Angola)
Os jovens lutam pela liberdade de expressão e criticam atual governoFoto: DW

Mesmo assim não são todos que têm coragem de ir às ruas protestar e mostrar a verdadeira cara do país. Talvez seja por conta da herança de um passado de guerras, da independência tardia ou o simples medo da repressão, como conta o ativista e colaborador do blog Central Angola, Kady Mixingue.

“As pessoas ainda vivem com medo. Isso talvez seja fruto de um período de guerra ou pelo fato de vivermos por muito tempo sob um sistema de partido único, que de alguma forma deixou marcas. São demasiadas memórias tristes, por isso as pessoas ficam com medo até de opinar", ressalta Mixingue.

"Tenham a liberdade de escolher"

E é para não ver nenhum amigo, parente ou qualquer outro cidadão angolano na prisão, injustamente, e para que o medo fique no passado, que os ativistas unem-se para fazer um pedido à população angolana, principalmente aos jovens. Mixingue pede para que as pessoas prezem pela liberdade de escolha.

“Ninguém pode obrigar que se vote em quem quer que seja. Tenham a liberdade de escolher em sã consciência como querem o destino do país. Sobretudo votem em liberdade e com consciência. Não tenham medo de mudanças. Às vezes, as mudanças maximizam as potencialidades do país do ponto de vista do desenvolvimento humano”, alerta o ativista.

E MCK também deixa a sua mensagem à juventude. “Tenham algum cuidado na apreciação de cada projeto político. Vamos acompanhar com a merecida atenção de modo a depositarmos a nossa confiança, o nosso voto naqueles que se apresentarem mais capazes e tiverem mais próximos dos ideais da democracia. Aqueles que tiverem um programa mais inclusivo, um programa onde exista o princípio da igualdade de direito, da paz e da justiça de modo a permitir que nosso país dê o salto para a fase seguinte à independência que é o desenvolvimento integral, a valorização do homem angolano, as coisas de Angola para que venhamos a ser esse país abençoado que Deus ofereceu para nós. Ou seja, os nossos recursos, em vez de servirem de maldição como acontece até agora, têm que servir de verdadeiras bênçãos e servir de alavanca para o progresso”, diz MCK.

Der angolanische Rapper Marshall Kamba Dya Muenho (richtiger Name João Carlos da Silva). Copyright: Marshall Kamba Dya Muenho Luanda, Angola, 2012
O rapper Marshall Kamba Dya Muenho foi preso quando protestava por água e energia elétrica para comunidades carentesFoto: Marshall Kamba Dya Muenho

E que, no futuro, viver em Talatona não seja apenas um sonho distante para a maioria dos angolanos, esperam os ativistas.

Autora: Melina Mantovani
Edição: António Rocha

Angola - rappers (online) - MP3-Mono

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