Eleições autárquicas transformam xadrez político de Moçambique
26 de novembro de 2013A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), o partido no poder, declarou-se "digno vencedor" das eleições autárquicas de 20 de novembro, felicitando o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), terceiro maior partido do país, pelas vitórias nos municípios da Beira e Quelimane.
Segundo dados provisórios, o MDM terá conseguido um resultado histórico na capital. O candidato Silvério Ronguane obteve 59.679 votos (41%). E Calisto Cossa, pela FRELIMO, venceu em Maputo com 79.975 votos (59%). Até ao momento, nenhum outro partido ou candidato da oposição conseguiu obter tantos votos, em toda a região sul de Moçambique.
Em entrevista à DW África, o sociólogo moçambicano Moisés Mabunda avalia os resultados das autárquicas.
DW África: Como vê Moçambique após as eleições autárquicas de 20 de novembro?
Moisés Mabunda (MM): O país ganhou muito com estas eleições. A RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana, a principal força da oposição) perdeu muito porque defendeu que não houvesse eleições no país. Estamos infelizmente nesta troca de tiros, mas esse não é nenhum mecanismo de eleição de dirigentes da sociedade. E os eleitores moçambicanos foram às urnas, votaram. E esta é uma mensagem de que a sociedade pretende que a democracia seja o modo vigente.
DW África: Qual a mudança mais significativa que as eleições autárquicas trouxeram politicamente para Moçambique?
MM: Vemos o MDM a ascender talvez ao estatuto de um partido de dimensão nacional. O partido teve a pujança de poder apresentar candidatos não só para a presidência dos municípios mas também para membros das assembleias de todas as 53 autarquias que estavam em jogo. E este é um dado novo, pois até ao momento o partido da oposição que o tinha conseguido era a RENAMO.
DW África: Existe alguma relação entre os avanços conseguidos pelo MDM, em termos de resultados, e a estratégia de boicote da RENAMO?
MM: O MDM tem estado em todos os distritos, em todas as localidades, a mobilizar-se, a recrutar militantes, a explicar o que é que pretende - e isto haveria mesmo com a RENAMO [a participar nas eleições autárquicas]. Portanto, houve um pouco mérito do próprio MDM e também um pouco este vazio que a RENAMO deixou e que, de alguma forma, foi preenchido.
DW África: Genericamente, considera-se que apesar de o MDM ter perdido em Maputo e Matola fez história pelo grande volume de votos que conquistou. Como avalia o desempenho nas duas cidades?
MM: Não me parece muito espantoso que nessas cidades tenha havido uma luta renhida entre o MDM e a FRELIMO. Nos locais onde há muita capacidade analítica, muita informação a circular, a governação da FRELIMO é muito discutida. Devia chamar a atenção do partido no poder que a sua não aceitação está em crescendo. E portanto, tem que fazer mais.
DW África: Que perspectivas abrem estas eleições para as próximas eleições gerais agendadas para 2014?
MM: Não concorrendo a RENAMO, o que poderemos ter é um MDM talvez com um terço ou a aproximar-se da metade dos deputados da Assembleia Nacional. Participando a RENAMO nas eleições, poderá haver alguma divisão de votos porque alguns dos cidadãos que votam no MDM são, de alguma forma, partidários da RENAMO mas nunca da FRELIMO, obviamente. E a FRELIMO, ainda que esteja com uma imagem desgastada, ganhou as eleições autárquicas.