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Em Angola, estatuto de utilidade pública é só para alguns

Nelson Sul d'Angola (Benguela)12 de outubro de 2015

Nem todas as associações angolanas conseguem o estatuto de utilidade pública, para conseguir obter dinheiro do Estado. O Governo tem apenas reconhecido instituições ligadas ao partido no poder, o MPLA.

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Foto: Getty Images/AFP/S. de Sakutin

Em setembro, o Conselho de Ministros angolano reconheceu a Fundação Piedoso como instituição de utilidade pública. O patrono da fundação é Elias Piedoso Chimuco, deputado do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).

A decisão reacendeu uma antiga polémica sobre os critérios seguidos pelo Governo para o reconhecimento de instituições de utilidade pública, a fim de serem subsidiadas pelo Orçamento Geral do Estado.

O Executivo tem apenas reconhecido instituições ligadas ao partido no poder - é o caso da Fundação Eduardo dos Santos (FESA), do Fundo LWINI, dirigido pela primeira-dama Ana Paula dos Santos, ou das Organizações Kabuscorp, do general Bento Kangamba; é também o caso da AJAPRAZ (Associação dos Jovens Angolanos Provenientes da Zâmbia) ou do Movimento Nacional Espontâneo, todos com ligações ao MPLA.

Bento dos Santos Kangamba
Bento dos Santos Kangamba, dirigente do MPLAFoto: cc-by-sa/Jose David Baptista de Sousa

O Governo angolano já foi confrontado com a situação, mas não responde, segundo Fernando Pacheco, coordenador do Observatório Político e Social de Angola (OPSA).

"Já foi várias vezes solicitado um esclarecimento público. Face à falta de esclarecimentos públicos, só podemos concluir que são critérios de ordem subjectiva", afirmou o engenheiro agrónomo em entrevista à DW África. "Não posso garantidamente dizer que há razões políticas por trás desse tipo de atitude, mas é possível que, por essa razão, se possa chegar a essa conclusão."

Uns em detrimento de outros

Pio Wacussanga, pároco da arquidiocese do Lubango, refere que é um absurdo atribuir o estatuto de instituição de utilidade pública a organizações que "nem sequer trabalham na base", em detrimento de organizações como a ADRA (Ação para o Desenvolvimento Rural e Ambiente), AJPD (Associação Justiça, Paz e Democracia), Associação Mãos Livres, OMUNGA ou SOS Habitat.

"Essas são associações empenhadas em questões locais, para minimizar o sofrimento das populações, mas são vistas como subversivas porque não acrescentam ao poder de quem se quer prolongar no poder."

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Wacussanga, que também é presidente da organização Associação Construindo Comunidades (ACC), critica assim instituições usadas como "base de apoio" do poder - "essas associações podem também ser o canal para branqueamento de capitais, a fim de branquear a imagem de quem está no poder", diz.