Boicote da RENAMO ao recenseamento funcionou a meio gás
23 de julho de 2013Apesar da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o maior partido da oposição, ter apelado ao boicote do recenseamento e das eleições, os números não dão margem para dúvidas.
Ainda assim, Fernando Mazanga, porta-voz do partido, acredita que a intenção da RENAMO não saiu gorada: "Não falhou. O boicote funcionou. A questão que é colocada é a fidelidade dos dados estatísticos avançados como sendo o ponto de partida, como sendo o universo eleitoral. O universo eleitoral está acima do que foi dito."
Para Fernando Mazanga a maior parte das populações não aderiu a este processo: "Por outro lado esta trata-se da primeira medida que os eleitores tomaram. Mas mesmo os que se foram recensear não há garantia de que possam aparecer nas urnas."
Os dados mais recentes do STAE, o Secretariado Técnico da Administração Eleitoral, dão conta de 71 por cento das pessoas recenseadas em Maputo, 83 em Inhambane, 85 em Manica, 100 por cento em Tete e 57 na Zambézia, por exemplo.
Justificações da RENAMO
Fernando Mazanga dá pistas sobre estes números: "São resultado das novas autarquias. As pessoas tiveram a curiosidade de ver o novo cartão de eleitor e ter um novo documento de identificação. E os jovens que vão completar 18 anos até 20 de Novembro."
O porta-voz do maior partido da oposição está convicto do apoio do eleitorado da RENAMO: "Nós conversámos e muitos jovens dizem que só querem ter o documento, que não vão votar em eleições onde o principal concorrente não está a concorrer."
Por outro lado, o membro da RENAMO não afasta a hipótese de fraude no processo de recenseamento: "A fraude não pode ser descartada porque quando se faz um recenseamento cirúrgico surgem situações que têm reflexo no futuro nos órgãos operacionais."
Fernando Mazanga deixa nas entrelinhas a possibilidade de manipulações no processo: "Se se pode recensear bem uma zona que se sabe que tem o nosso apoio e menos bem outra zona que apoia menos, já por si isto é uma fraude anunciada."
Ainda não há um balanço final da operação de recenseamento, que termina nesta terça-feira (23.07.), mas os dados divulgados nos últimos dois meses indicam uma baixa afluência dos eleitores nos municípios onde a RENAMO tem um histórico de bons resultados.
E em paralelo o acordo...
O acontecimento pode estar relacionado com o facto do partido pretender boicotar as eleições municipais, enquanto as suas exigências em relação à paridade na Comissão Nacional de Eleições não forem satisfeitas.
Se a FRELIMO, partido no poder, e a RENAMO chegarem a acordo, terá de haver mudanças no calendário eleitoral, defende Fernando Mazanga. Porém, segundo ele, a hipótese de um consenso está longe de se concretizar por falta de vontade política da FRELIMO.
O porta-voz da RENAMO descortina o que considera uma provável manobra da FRELIMO: "Na verdade eles pretendem concorrer sozinhos ou arranjar uns partidos fracos para poderem cilindrá-los e dizer que são democratas e que ganharam as eleições com o apoio popular."
Relativamente a um possível acordo entre a RENAMO e o Governo Fernando Mazanga considera que o tempo está esgotado: "Hoje é o último dia do recenseamento, na pior das hipóteses o acordo terá de ser levado à Assembleia da Republica e depois passar pela promulgação do Presidente da República."
O porta-voz do maior partido da oposição acha que essa tensão ainda deve durar: "Ainda a procissão vai no adro. Todo o calendário eleitoral tinha de ser revisto. Eu não me recenseei e ficaria impedido de me candidatar a qualquer órgão."
As eleições municipais estão agendadas para 20 de novembro próximo em 53 municípios, dos quais 10 terão o escrutínio pela primeira vez depois de terem ascendido à categoria de município em maio deste ano.