Embaixador angolano em Lisboa não comenta caso judicial
1 de março de 2016As relações político-diplomáticas entre Angola e Portugal não serão beliscadas pela investigação ao vice-presidente angolano, Manuel Vicente, cujo nome aparece referido no âmbito do processo que levou à recente prisão preventiva do ex-magistrado português Orlando Figueira, por alegadamente ter recebido dinheiro do antigo homem forte da petrolífera Sonangol para arquivar processos. A garantia foi dada pelo embaixador angolano em Lisboa, José Marcos Barrica, que falava à imprensa esta segunda-feira (29.02.), à margem da conferência "Construir um futuro sustentável" em Angola.
José Marcos Barrica disse que as relações económicas e políticas luso-angolanas não serão afetadas na sequência da investigação pela Polícia Judiciária (PJ) portuguesa ao vice-presidente Manuel Vicente, no âmbito da "Operação Fizz", que envolve o ex-procurador luso Orlando Figueira, em prisão preventiva.
"O que nós temos vindo a acompanhar são análises de questões bilaterais em todos os domínios da vida dos dois países e não se fazem análises de assuntos particulares, assuntos isolados", esclareceu.
Segundo o diplomata, as relações entre os dois países e povos devem pautar sempre pela melhoria permanente. "Quer as aurtoridades portuguesas quer as autoridades angolanas têm vindo a trabalhar no sentido de aprofundar e consolidar as relações entre Angola e Portugal e entre portugueses e angolanos".
O diplomata angolano disse ainda que a Embaixada em Lisboa acompanha o processo através da comunicação social. E estando a investigação a ser conduzida por instâncias do Estado português, Angola não interfere no processo.
"Não compete à missão diplomática pronunciar-se sobre assuntos que estão no foro da justiça", sublinhou o embaixador. "Acreditamos que as instâncias que cionduzem o processo são competentes e vamos continuar a trabalhar, como compete à missão diplomática, na melhoria e no aprofundamento das relações entre o Estado acreditante e o Estado acreditador".
Menos lucrativo exportar para Angola
Paulo Varela, presidente da direção da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Angola (CCIPA), não se quis pronunciar sobre o processo. "Não comentamos outro tipo de assunto que não seja a nossa atividade enquanto Câmara de Comércio. A dinamização da atividade empresarial é o nosso objetivo. Em relação a esse tema não temos qualquer comentário nem qualquer opinião".
O ministro português da Economia, Manuel Caldeira Cabral, também não falou do "caso Manuel Vicente". Preferiu destacar o esforço dos dois países para contornar as consequências da crise, nomeadamente a falta de divisas, o seu efeito nas importações e exportações, assim como no abrandamento do crescimento económico de Angola.
"Há já uma linha para o apoio aos pagamentos", lembrou, salientando que as várias empresas enfrentam diferentes dificuldades. "O setor da construção tem algumas dificuldades de baixa do nível de atividade, noutros sectores o principal problema são os pagamentos e obviamente neste momento a própria desvalorização da moeda retirou uma parte dos lucros a algumas empresas".
Por isso, tornou-se "menos lucrativo exportar para Angola". Segundo Caldeira Cabral, é preciso estancar esta queda criando mecanismos que permitam às empresas financiar as suas exportações. "Esta diminuição das relações a curto prazo vai ser compensada a longo prazo", concluiu.
Tal como muitos dos empresários que participaram na conferência da CCIPA, o ministro português mostrou-se confiante que a crise financeira e cambial em Angola será ultrapassada.