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Empréstimos do Irão e China podem comprometer processo democrático na Guiné-Bissau

5 de setembro de 2012

Enquanto algumas portas se fecham para a Guiné-Bissau, outras se abrem. O analista do Centro de Estudos Estratégicos Internacionais em Moçambique, Calton Cadeado, alerta para os perigos das novas fontes de financiamento.

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Daramé Mai, 2012
Governo de transição: Sorry Djalo, Serifo Nhamadjo e Rui de Barros.Foto: DW

DW África: As autoridades de transição em Bissau começam a recorrer a outros amigos, tal como o Irão que já respondeu prontamente à solicitação. A decisão do Fundo Mundial de suspender a ajuda é uma forma de pressionar Bissau a repor a ordem constitucional e cumprir com normas democráticas?

Calton Cadeado: Acho que esta pode ser uma forma de pressão política, mas também uma mensagem para desacreditar todas as ações que o Estado guineense, que as instituições guineenses têm estado a desenvolver nesta área.

DW África: O presidente de transição guineense, Serifo Nhamadjo, regressou de Teerão com 16 milhões de euros e a China vai emprestar 119 milhões para a área da energia eólica. O que pensa sobre esta viragem?

China Afrika Engagement
A China é um dos países que mais investe no continente africanoFoto: AP

CC:Tenho reservas que seja esta uma viragem. Na minha opinião serve apenas como uma complementaridade. É importante dizer aqui que para o Orçamento de Estado de muitos países africanos a principal fonte continua a ser os parceiros europeus. Acho que esta forma de ir buscar dinheiro é o reconhecimento de que a Guiné-Bissau tem um potencial que pode ser explorado, tem viabilidade do ponto de vista dos recursos que estão por ser descobertos, para além da sua situação geográfica estratégica. A China não dá esse apoio sem esperar alguma coisa principalmente numa área como a energética.

DW África: Esta complementaridade, como lhe chama, poderá comprometer o respeito pelos princípios democráticos ainda incipientes no país?

CC:Penso que não. Se quisermos ver de outra forma até pode exacerbar o problema da Guiné-Bissau, porque a Guiné-Bissau é dos países onde o problema da distribuição de recursos é extremamente visível. Quanto mais recursos aparecerem e enquanto Estado estiver fragilizado, aí pode aumentar o problema de conflitos. Isto fragiliza o pouco que está ser feito para garantir que o Estado funcione como um Estado normal, sem essas instabilidades cíclicas. O dinheiro é uma faca de dois gumes, ter recursos e não ter recursos é para a Guiné-Bissau neste momento extremamente sensível.

DW África: Países como a China não costumam exigir contrapartidas aos seus parceiros económicos, daí a minha questão...

Manuel Serifo Nhamadjo Guinea Bissau designierter Übergangspräsident
Serifo Nhamadjo o presidente de transição da Guiné-Bissau conseguiu apois financeiros do Irão e da ChinaFoto: picture-alliance/abaca

CC: Concordo consigo. Provavelmente a elite política, a elite militar que está no poder neste momento não terá um elemento de pressão vindo da China que é um factor relevante nas relações internacionais, mas por outro lado a China está a dar recursos e os poucos recursos que estão a vir para a Guiné-Bissau podem servir para exacerbar conflitos e isso pode comprometer o poder democrático.

Autora: Nádia Issufo
Edição: Helena Ferro de Gouveia / António Rocha

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