Guineenses na diáspora interrogam Raimundo Pereira e Carlos Gomes Jr.
6 de agosto de 2012A comunidade guineense radicada na Europa não está contente com a maneira como os militares e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) estão a resolver os problemas político-sociais na Guiné-Bissau.
O país nas mãos de um governo de transição, depois do golpe de Estado de 12 de abril, foi tema de um encontro realizado na Universidade de Lisboa neste último domingo (05.08).
Os guineenses ouviram e interrogaram o presidente interino, Raimundo Pereira, e o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior, ambos depostos, sobre os acontecimentos em Bissau nos últimos meses. Os participantes propuseram o diálogo entre todas as partes envolvidas no conflito, na intenção de encontrar uma solução que contribua para a estabilidade no país.
Disposto a voltar
Na ocasião, o primeiro-ministro deposto reafirmou estar "disponível para continuar a trabalhar" pelo país. Disse porém " que teria muita pena se fossem degradando
todos os passos que nós já demos para o desenvolvimento do nosso país", declarou Carlos Gomes Júnior aos jornalistas em Lisboa. Deixou claro que pretende retornar a Bissau se existirem condições de segurança.
Os próximo passos dependem agora do resultado da reunião de alto nível das Nações Unidas, no dia 14 de setembro. "Se for decidido e entendido que deve ir uma força multinacional para a Guiné-Bissau, naturalmente que estão criadas condições de segurança necessárias para regressar ao país", enfatizou Gomes Júnior.
Busca de apoio no exterior
Na opinião do presidente interino afastado, Raimundo Pereira, um dos signatários juntamente com Carlos Gomes Júnior - de uma carta aberta à CEDEAO e preparada pelo Fórum da Diáspora para o Diálogo e Desenvolvimento da Guiné-Bissau (FDDD), - o apoio da comunidade guineense residente no exterior é muito importante para repor a legalidade democrática no país. O argumento usado: eles entendem que os golpes de Estado não são solução para nenhuma nação.
Em entrevista à DW, Raimundo Pereira disse que os guineenses estão inconformados com o que se passa no país atualmente. "Eu costumo dizer que a democracia é rica, que existem condições para se resolver qualquer conflito que surja, pela via do diálogo. Portanto não se pode compreender e aceitar que hajam pessoas que pensam que golpes de Estado são solução para os problemas num país".
Para Pereira, ele continua sendo o Presidente legítimo da Guiné-Bissau. Tanto ele quanto Carlos Gomes Júnior foram figuras centrais no encontro da diáspora guineense na Europa. Além da comunidade guineense em Portugal, participaram da reunião guineenses residentes em Espanha, na França, na Bélgica, em Luxemburgo, na Alemanha, na Inglaterra e em Cabo Verde.
O objetivo é conseguir a contribuição de todos no exterior para resolver a crise sócio-política no país africano em questão, que tem levado à instabilidade sistemática.
Intermediador sem partido
José Alage Baldé, coordenador do recém-criado Fórum da Diáspora para o Diálogo e Desenvolvimento da Guiné-Bissau, reforçou a condenação ao golpe de Estado. "A causa da Guiné precisa estar acima de todo e qualquer acordo partidário. Queremos servir de ponte para resolver o problema", defende ressaltando que os problemas deste país precisam ser resolvidos pelos próprios guineenses. "Se houver abertura de ambas as partes."
O coordenador do FDDD sublinhou ainda que a iniciativa não tem rótulos partidários. O contato será com o comando militar e outras partes envolvidas no conflito, para que aceitem o diálogo como via para a paz e o regresso à ordem constitucional.
Neste domingo, as críticas caíram sobretudo sobre a postura da CEDEAO, mas também vieram a lume questões sobre as razões que resultaram na retirada das tropas angolanas da Guiné-Bissau.
Carlos Gomes Júnior repetiu que a CEDEAO "não tem condições, nem financeiras, nem tem capacidade" para conduzir sozinha o processo de transição em Bissau e criticou a possibilidade de se realizarem "eleições presidenciais de raiz". Ele questionou o financiamento do escrutínio.
"Existe uma crise financeira que toda a gente conhece. O financiamento de eleições de raiz vai ser muito complicado, o que quer dizer que vai prolongar o período de transição, o que não serve ao povo, não serve à nossa economia", defendeu.
Recorde-se que na última quarta-feira (01.08), Gomes Júnior se encontrou com o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, no âmbito da ofensiva externa em busca de uma solução para a crise guineense.
Autor: João Carlos (Lisboa)
Edição: Bettina Riffel / António Rocha