Especialistas alemães criam protetor solar para africanos albinos
16 de agosto de 2012
Pouco antes da hora de fechar, a farmácia de Martin Wippermann, na cidade de Pulheim, oeste da Alemanha, costuma ter o horário de pico. Herbert Kirchesch entra na farmácia. Mas ele não entra na fila para comprar medicamentos. Quer falar com Martin Wipperman sobre um projeto comum. Kirchesch é dermatologista e trabalha com um grupo de auto-ajuda de pessoas com albinismo na Alemanha.
O albinismo é uma enfermidade do metabolismo que causa problemas na formação dos pigmentos da pele. Por isso, quando albinos pegam sol, não ficam com a pele mais escura. Ela fica clara e muito mais sensível – também ao câncer de pele. O albinismo é um fenômeno mundial. Quando Kirchesch ouviu falar de albinos no continente africano, tomou consciência de que o problema naquela região do planeta é dramática.
Para problema complexo uma solução simples
O médico alemão decidiu entrar em contato com albinos no Quênia e assim ele e a sua equipa ficaram “sabendo que a embalagem mais barata de 200 ml de protetor solar custa cerca de 15 dólares. E pensamos: será que não é possível produzir um protetor solar que pode ser preparado em África? O senhor Wippermann começou a pesquisar quais eram as receitas possíveis para as condições locais".
O farmacêutico Wippermann começou a fazer experiências no laboratório atrás da farmácia. Logo, encontrou uma solução simples. Wippermann retira uma garrafa da prateleira atrás do balcão e começa a fazer uma mistura. E explica passo a passo o seu trabalho: “o óxido de zinco é esse pó branco aqui, vou colocar um pouco. Depois, basta colocar este óleo e misturar tudo. Depois, eu colocaria mais um creme hidratante já comprado, já pronto, e misturo tudo. Fica pronto para usar. Não é tão leitoso quanto os cremes industrializados e só conseguimos atingir o fator 20 de proteção. Mas é melhor que nada".
Na Alemanha, um quilo de óxido de zinco custa 10 euros e, misturado com óleo de cozinha e creme hidratante básico, pode gerar até 20 litros de protetor solar.
Da Alemanha para o Quênia
Kirchesch e Wippermann mandaram um pacote com óxido de zinco e a receita para Judith Muloyo, no Quênia. Muloyo tem 39 anos e é albina. Enquanto assistente social, ela tenta informar pessoas sobre a doença.
Na maior parte dos países africanos, os albinos precisam lidar com o preconceito, muitas vezes são rejeitados pelas famílias. Acabam sendo até assassinados, porque alguns curandeiros querem usar partes de seus corpos.
Judith Muloyo explica que “quando recebo os componentes químicos só preciso misturá-los seguindo a receita, que já tenho. Experimentei usar o creme na minha pele. Funcionou, a minha pele ficou cada vez mais macia”. Para a assistente social queniana, o projeto do creme solar acaba ajudando os albinos e “agora só preciso convencer mais pessoas para que o protetor possa ser vendido nos mercados", conta.
Mas, por enquanto, o creme de proteção solar de Judith Muloyo ainda custa entre 6 e 7 dólares o tubo. Um preço demasiado alto para a maior parte dos albinos, já que um tubo acaba em uma semana. Para Herbert Kirchesch, o projeto precisa encontrar um produto químico local mais barato que sirva de protetor solar. Algo que não pode ser resolvido numa farmácia na Alemanha.
Autores: Adrian Kriesch / Renate Krieger
Edição: Glória Sousa / António Rocha