Etiópia volta a bloquear acesso à internet
2 de junho de 2017O apagão da internet em todo o país começou na terça-feira (30.05.). O serviço de internet na Etiópia está inteiramente nas mãos da Ethio Telecom, fornecedora estatal de telecomunicações. Esta é a terceira vez num ano que a Ethio Telecom repete o bloqueio.
Segundo o blogger etíope Daniel Birhane, o apagão deixou poucas empresas e organizações online – apenas as que têm meios alternativos de conetividade como a comunicação via satélite. Na capital, Addis Abeba, estão sediadas a União Africana e a Comissão Económica da ONU para África.
Responsáveis de ambas as instituições afirmaram que o seu acesso à internet foi cortado, tendo voltado depois. No entanto, na quinta-feira à tarde (01.06), muitos etíopes continuavam sem conseguir comunicar. "Não são apenas os serviços de internet móvel que estão cortados, mas também os fixos. Não consigo monitorizar o meu próprio site, as plataformas de social media ou abrir emails. É realmente complicado”, afirma Birhane, em entrevista à DW.
De acordo com o Google, dados preliminares sugerem que houve, de facto, uma grande queda no tráfego da internet na Etiópia desde quarta-feira à tarde (31.05). Birhane afirma que este é um corte que era desnecessário e que viola os direitos digitais dos etíopes. "Os ciber-cafes estão fechados. Às vezes eu sinto-me como se estivesse como há quinze anos atrás . Alguma coisa precisa ser feita”, afirma.
A Etiópia tem vindo a censurar a internet no país há mais de uma década. As redes sociais como o Facebook e o Twitter têm vindo a ser bloqueadas desde o final do ano passado. No mês passado, um tribunal etíope condenou o político da oposição Yonatan Tesfaye a seis anos e meio de prisão por, alegadamente, ter criticado o governo através de um post no seu Facebook.
A Etiópia, que tem uma das menores taxas de conetividade no mundo, foi um dos primeiros países a censurar a internet para reduzir os protestos políticos. Desde novembro de 2015, mais de 500 manifestantes contra o governo foram mortos e milhares foram presos enquanto reivindicavam a reforma agrária e o fim da violação dos direitos humanos.
No ano passado, ativistas partilharam os exames do 12º ano na internet e apelaram ao adiamento das provas, devido ao encerramento de uma escola do estado regional de Oromia. Mohammed Negash, do serviço amárico da DW, afirma que as medidas tomadas visam a prevenção da ocorrência de um incidente semelhante. Negash espera que esta seja apenas uma medida temporária e que as coisas voltem ao normal depois de terminados os exames.
O Governo, através do seu diretor de relações pública, Mohammed Seid, afirma que o movimento foi "pró-ativo”. Em entrevista à Reuters, este responsável afirmou: "Queremos que os nossos estudantes se concentrem e estejam livres de pressão psicológica e distração [que a internet traz].
Cerca de 1,2 milhões de estudantes do ensino secundário estão, atualmente, a fazer exames nacionais. Outros 288 mil jovens preparam-se para os exames de admissão à universidade, que decorrem na próxima semana.
O governo da Argélia tomou uma decisão semelhante quando, em 2016, bloqueou as redes sociais para evitar "batota” nos exames nacionais do ensino secundário.