EUA querem "tratar África como potência geopolítica que é”.
19 de novembro de 2021Na sua primeira visita ao continente, Blinken tenta provar o compromisso dos Estados Unidos com África. O chefe da diplomacia disse, num discurso em Abuja, capital da Nigéria, que "o Presidente Biden planeia realizar uma cimeira com líderes norte-americanos e africanos para prosseguir uma política diplomática de alto nível”.
A visita foi realizada antes de um evento organizado pela China, que está planeado para o final de setembro, no Senegal, país que o representante pretende visitar ainda esta sexta-feira (19.11).
O secretário de Estado norte-americano desvalorizou a questão da influência chinesa no continente e afirmou que a cimeira dos EUA pretende "transformar a relação com África e tornar possível uma cooperação eficaz”.
Blinken está a tentar evidenciar o compromisso dos Estados Unidos com África em diversas frentes, como a segurança, a luta contra a pandemia e as alterações climáticas. Segundo o representante do Estado, "a nossa parceria com a Nigéria e muitos outros países não é sobre a china ou outro elemento, é sobre África”.
Blinken quer fazer acordos "de maneira diferente"
Ainda em Abuja, Blinken diz que os EUA pretendem "tratar África como a potência geopolítica que é”. O diplomata explicou que está ciente dos laços que, muitas vezes, acompanham os investimentos estrangeiros e tentou distinguir-se dizendo que os Estados Unidos não pretendem limitar as parcerias com outros países, mas sim que a sua cooperação aponta à sustentabilidade e transparência.
"As infraestruturas de outros países vêm com dívidas impossíveis de pagar, nós queremos fazer as coisas de maneira diferente”, afirmou o Secretário de Estado.
Em 2020, a relação dos Estados Unidos com o Nigéria ficou abalada depois de as forças de segurança nigerianas serem acusadas de reprimir de forma violenta os protestos em massa contra a brutalidade policial. De facto, há poucos dias foi divulgado um relatório, de um painel constituído há um ano, para investigar os abusos mencionados. O texto menciona que o Exército disparou munições vivas contra os manifestantes e que estes acontecimentos podem ser considerados "um massacre”.
Problemas africanos, soluções africanas
No início da sua visita, que começou no Quénia, Blinken apelou a soluções africanas para problemas africanos. Na Nigéria pediu um maior papel de liderança de Abuja e falou acerca da importância de construir forças de segurança eficazes, que têm conta os fatores subjacentes ao extremismo e respeitando os direitos humanos básicos dos nigerianos. "Os Estados Unidos estão investidos na parceria de segurança com a Nigéria de forma a reforçar o Estado de direito e a responsabilizar aqueles que cometem abusos que prejudicam o povo nigeriano”, explica.
O Congresso dos Estados Unidos atrasou a venda de 12 helicópteros de ataque US Cobra à Nigéria devido a questões acerca do compromisso dos militares em proteger os civis na sua luta contra a insurgência jihadista do Boko Haram. Ainda assim, o país começou a receber aeronaves de ataque, acordo que foi autorizado pelo antigo presidente Donald Trump, em 2017. "A capacitação vai muito além da entrega de equipamento militar”, explica Blinken.
O correspondente da DW na Nigéria, Ben Shemang, acredita que a visita do Secretário de Estado vai "forçar o Governo a agir, os Estados Unidos, a União Europeia, a União Africana, têm interesse nisso. O chefe da diplomacia norte-americana apontou para a disponibilidade de Washington de apoiar o reforço das capacidades do exército da Nigéria, com total respeito pelos direitos humanos, numa altura em que o país luta há uma década com a insurgência extremista islâmica no nordeste.
Antony Blinken anunciou ainda a assinatura de um programa de ajuda ao desenvolvimento de mais de 2 mil milhões de dólares.
Acordos com nigerianos não são acordos com Governo
Oge Ogunogu, diretora para a África Ocidental no Instituto de Paz dos Estados Unidos, alertou para a necessidade dos EUA de lidarem com o povo nigeriano de forma mais direta, não apenas com o Governo, "é importante perceber que há duas Nigérias, muito compromisso tem sido feito com instituições, mas temos pessoas a trabalhar fora das estruturas do Estado e temos de interagir com elas de forma a perceber o que a paz e democracia significam para elas”, explica.
Expetativas dos cidadãos
Num vox pop, Lawrence diz que na visita de Blinken à Nigéria "devia aproveitar-se a oportunidade para discutir o assunto das armas com ele, para que seja possível usá-las de forma apropriada”. O cidadão queixa-se das restrições impostas pelos EUA relativamente ao uso do equipamento militar, " as munições só podem ser usadas contra terroristas, mas não contra bandidos, acho que essas condições não se deviam aplicar”, explica.
Outro cidadão, Favour, explica: "O nosso Governo é muito mau em termos de corrupção, desemprego e educação” e espera que a visita sirva para Blinken "fazer muitas perguntas ao presidente acerca do nosso país, porque as coisas estão más e eles não querem que isto se saiba”.