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Ex-primeiro-ministro move queixa-crime contra Sissoco Embaló

10 de junho de 2024

Em entrevista exclusiva à DW, o ex-primeiro-ministro guineense Martinho Ndafa Cabi diz que chegou a hora de "salvar" a Guiné-Bissau, perante a inação dos partidos políticos.

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Ex-primeiro-ministro da Guiné-Bissau Martinho Ndafa Cabi (à direita)
Martinho Ndafa Cabi (à direita): "É melhor apagar o fumo do que esperar o fogo"Foto: Alexander Joe/AFP/Getty Images

Martinho Ndafa Cabi fundou a organização da sociedade civil "Patriotas para a Salvação da Constituição", com a qual pretende lutar contra o "abuso de poder" no país e evitar um eventual conflito político militar.

Como primeira ação, o antigo primeiro-ministro, que dirigiu o país entre abril de 2007 a agosto de 2008, moveu uma queixa-crime contra o Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló.

DW África: O que esteve na origem da criação do grupo "Patriotas para a Salvação da Constituição"?

Martinho Ndafa Cabi (MNC): A democracia está em risco. E se há partidos políticos completamente divididos, desarticulados, alguém há-de vir para poder reinar, como é que pode haver democracia no país? Não pode haver nada. Não há nenhum partido que, neste momento, tenha estabilidade interna.

Exclusivo DW com o ex-primeiro-ministro Martinho Ndafa Cabi

Tudo está desarticulado. Tudo. Todos os partidos têm problemas. Alguém está a meter a mão nos partidos políticos e nós sentimos isso. Durante este tempo, nenhum partido consegue dizer nenhuma palavra em relação a tudo aquilo que acontece no país. Ninguém diz nada. Nada, nada mesmo. Por isso, nós aparecemos, criamos este grupo, que nós chamamos de Grupo para a Salvação da Constituição e da Democracia.

DW África: E como é que vai atuar este grupo, se o partido tem medo de falar por causa das represálias? também a sociedade civil tentou um protesto de rua, que foi reprimido. Qual é o campo que essa iniciativa terá?

MNC: Quem não corre riscos? Até para comer com uma faca, existe risco, quanto mais para fazer política. Por isso, nós temos consciência clara de que existem todos esses riscos. E nós estamos a lutar, é uma luta. E não há nenhum poder que se oferece, se conquista. E nós estamos aqui numa luta para a conquista da nossa liberdade, da democracia, dos valores que os nossos combatentes conseguiram durante a luta.

DW África: E há quem diga que, por esse andar, o país poderá correr sérios riscos de ver mais um conflito político armado. Sente-se que a tensão está a chegar aos limites?

MNC: Isso é que nós não queremos. É melhor apagar o fumo do que esperar o fogo. E nós estamos a fazer esse papel, para evitar que nós cheguemos a este ponto. Há alta tensão aqui e nós temos de trabalhar para evitar chegar a essa fase.

Umaro Sissoco Embaló, Presidente da República da Guiné-Bissau
Umaro Sissoco Embaló, Presidente da República da Guiné-BissauFoto: Phill Magakoe/AFP

DW África: Esse grupo vai tentar contactos com as autoridades do país, com partidos políticos, sociedade civil? Como é que vai ser?

MNC: Primeiro objetivo: nós vamos continuar a elencar todos os abusos e crimes que essa autoridade está a produzir. Temos já advogados que preparam as nossas propostas, que levamos para os tribunais. E isso é que estamos a fazer. Já entregámos duas queixas no tribunal, portanto na Procuradoria-Geral, uma queixa contra a atual presidente do Supremo Tribunal e outra contra o Presidente da República. É isso que estamos a fazer.

DW África: E qual o porquê destas duas queixas? Quais são os fundamentos?

MNC: O [anterior] presidente do Supremo Tribunal foi assaltado, foi injuriado. Polícias foram à casa dele, invadiram a casa dele, até que o homem pediu demissão sem querer. E alguém foi lá e assaltou o gabinete dele e assumiu o poder. Portanto, por isso é que nós apresentamos uma queixa-crime por crime de usurpação de funções, crime de arrombamento e crime de dano previsto e punido no nosso Código Penal contra o Presidente da República.

Nós apresentamos uma queixa-crime, de atentado contra a Constituição da República, por causa da dissolução da Assembleia da República no prazo não previsto na lei. Outra queixa é equação contra órgãos constitucionais, porque entendemos que ele quer silenciar os órgãos estatais, por exemplo, a ANP e o Supremo Tribunal de Justiça, sendo que é a organização do poder político que se baseia na separação e independência dos órgãos da soberania e da subordinação de todos eles da Constituição. Portanto, ele não quer que isso funcione. Abuso de poderes é outra questão.

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Braima Darame Jornalista da DW África
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