Festa cabo-verdiana Kola San Jon é Património Cultural português
12 de novembro de 2013
Alexandre Martins e Maria Livramento Rodrigues vivem há vários anos no bairro do Alto da Cova da Moura, na freguesia da Buraca, no concelho da Amadora, arredores de Lisboa. Trouxeram de Cabo Verde as vivências da sua cultura. Uma delas é a festa de Kola San Jon.
“Desde criança, senti muito prazer com o Kola San Jon” e, quando, “em Portugal, encontrei esta tradição, então também quis fazer parte porque é uma tradição muito importante para a gente,” confessa o cabo-verdiano Alexandre Martins.
Tanto Alexandre como Maria são elementos importantes nas festividades que se celebram na Cova da Moura, todos os anos, no dia de São João (24.06).
Ele é tamboreiro e ela assume várias funções no grupo: "coladeira, porta-bandeira, portanto sou muita coisa”, explica, entre risos, Maria Livramento Rodrigues.
A Festa do Kola San Jon é uma tradição oriunda das ilhas de Santo Antão, São Vicente e São Nicolau, que passou a ser celebrada no bairro português desde 1992. Trata-se de uma manifestação que envolve música, dança, palavra e artefactos, por meio dos quais os animadores recriam alguns aspectos da tradição cultural cabo-verdiana.
Reportam assim às festas que se realizam naquelas ilhas de Barlavento, entre o dia de Santa Cruz (03.05), e o dia de São Pedro (29.06).
Kola San Jon é reflexo da comunidade
Foi por iniciativa da Associação Moinho da Juventude, com o apoio de especialistas das universidades de Aveiro e Lisboa, que o “Kola San Jon” passou a fazer parte do Inventário do Património Cultural Imaterial de Portugal.
A classificação, como refere o Diário da República Portuguesa de 16 de outubro, «deve-se à importância de que se reveste esta manifestação (…) enquanto reflexo da comunidade do bairro do Alto da Cova da Moura».
No dia 1 de novembro, aniversário da Associação, a população festejou esta conquista com uma pequena celebração.
“O facto de o Rui Simões ter feito o filme sobre o Kola San Jon quando fomos com o grupo a Cabo Verde foi de grande importância para este reconhecimento. Depois, todo o trabalho de Júlia Carolino, que é antropóloga, e de Ana Flávia, que é etnomusicóloga, e que nos ajudaram para fazer toda a formulação”, esclarece com regozijo Lieve Meersschaert, da Associação Cultural Moinho da Juventude.
No próximo ano, o Kola San Jon poderá abrir as tradicionais Marchas das Festas Populares de Lisboa, espera Lieve Meersschaert.
Comunidade aplaude e quer reconhecimento da morna
Maria Livramento representa a alegria com que a população da Cova da Moura acolheu este reconhecimento oficial da tradição. “Gostei porque é uma maneira de começarem a respeitar o património na festa. Acho que é muito bonito,” disse.
O anúncio oficial da inscrição do Kola San Jon coincidiu com a Quinzena Cultural Cabo-Verdiana, que decorreu de 17 de outubro a 9 de novembro.
“A cultura cabo-verdiana está de parabéns com esse grande desafio conquistado pelo Kola San Jon (...) e digamos que a morna também está no bom caminho,” aplaude assim Mário de Carvalho, presidente da Associação Cabo-Verdiana, promotora da quinzena, a decisão da Direção-Geral do Património Cultural português.
Durante a quinzena, também se evocou a morna, género musical e de dança tradicional de Cabo Verde que é candidato a Património Imaterial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
A direção da Associação Moinho da Juventude já decidiu lançar um processo idêntico para a festa do Kola San Jon junto à UNESCO, que contará certamente com o envolvimento dos Governos de Cabo Verde e de Portugal.