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Flora Gomes: "Tarde ou cedo haverá eleições na Guiné-Bissau"

João Carlos
4 de maio de 2023

O realizador guineense Flora Gomes não acredita na realização das eleições legislativas a 4 de junho, data marcada pelo Presidente Sissoco Embaló. Mas insiste que é "o único caminho" para resolver os problemas do país.

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Foto: João Carlos/DW

Flora Gomes, que faz parte da geração da luta de libertação pela independência nacional e seguidor dos ensinamentos de Amílcar Cabral, encara com normalidade os vários períodos críticos que têm marcado o percurso histórico do seu país, independente há cerca de 50 anos.

O realizador, também atento à atual situação política, tem dúvidas que a ida às urnas ocorra na data de 4 de junho próximo. "Eu estou fora e não sei se vai ou não haver eleições. Pode não haver eleições na data marcada, mas tarde ou cedo haverá eleições na Guiné-Bissau. É o único caminho para resolver o problema do país, que é o de ter instituições legais para poder retomar o caminho certo da nossa independência", defende.

O cineasta diz que a Guiné-Bissau é um país novo e lembra que "a democracia é uma coisa nova na cultura africana", o que exige aprendizagem. Ainda assim, acredita que, apesar de "alguns momentos de sobressaltos", os guineenses têm sabido "encontrar um denominador comum" em defesa do interesse nacional.

Ninguém pode "dividir um povo heróico"

Flora Gomes não aceita uma certa visão de que a Guiné-Bissau, que continua a ser um país de esperança, seja hoje um país dividido.

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"Não há nenhuma força misteriosa que pode dividir um povo heróico, que lutou descalço, com fome, até conquistar a independência. É o primeiro caso na história de África e eu diria mesmo no mundo", sublinha.

"Pode haver quem queira dividir os guineenses", adianta o cineasta, crente quanto ao futuro do país "cheio de energia" e "dinâmica" própria. "Não podemos deixar esmorecer todo o sonho de um povo", afirma.

"Acredito que, cedo ou tarde, a Guiné-Bissau encontrará um caminho certo para [seguir] o seu destino."

Situação caótica mantém-se

Djenabu Mané, a fazer mestrado em Estudos Africanos no ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa (IUL), fala de incerteza e admite que a política agudizou a divisão na diversidade. Para esta estudante guineense, "o país vive uma situação caótica" e, por isso, "nada é certo".

"Há muitos anos que temos vivido situações de incertezas e nada garante que as eleições vão realizar-se na data prevista. Pode haver mudanças. Tudo é possível", diz.

O Presidente Umaro Sissoco Embaló agendou as próximas eleições legislativas para 4 de junho
O Presidente Umaro Sissoco Embaló agendou as próximas eleições legislativas para 4 de junhoFoto: Afolabi Sotunde/REUTERS

A ida às urnas pode ser adiada, prevê a jovem guineense, mas o importante é que "corra tudo num clima de paz". Se o Presidente Umaro Sissoco Embaló alterar a data das eleições, "será por sua conveniência", lamenta.

"Tudo que fizer vai ser em seu benefício ou do partido que provavelmente vai apoiar nas legislativas. Acho que essa é a lógica", conclui a jovem.

Falta "entusiasmo eleitoral"

Mashood Djaló, estudante de mestrando em Estudos Internacionais no ISCTE-IUL, vê a situação política com ceticismo. O estudante guineense não acredita na boa fé do "regime instalado no país".

Esta é uma das razões pelas quais os guineenses não encaram as próximas eleições com o mesma emoção registada no passado. "Não há um entusiasmo como tem havido nos últimos anos, nas últimas eleições de 2012 e de 2019. Estas eleições já têm um rosto, já têm uma direção, já têm uma premissa, [cuja] conclusão todo o mundo já não vai ficar surpreso", diz o estudante.

Neste âmbito, Djaló lamenta o silêncio do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), principal força da oposição. "E este silêncio está a deixar a população guineense com receio. Esperava umas eleições muito mais emotivas, o que infelizmente não está a acontecer", lamenta o jovem. Apesar de tudo, diz que os guineenses desejosos de "uma mudança" ainda vêm "esperança ao fundo do túnel".

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