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Fome em Angola obriga famílias a comer cães e gatos

Nelson Camuto (Malanje)
30 de agosto de 2024

Cães e gatos são animais de estimação muito presentes no convívio das famílias angolanas. Mas em Malanje e noutras províncias estes animais estão agora a ser consumidos por várias pessoas, alegadamente por causa da fome.

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Muitas pessoas estão a passar fome no sul de Angola.
Imagem ilustrativa: Apesar da crise social e económica, as autoridades desaconselham o consumo de cães e gatosFoto: Adílson Liapupula/DW

Domingos José, de 28 anos, residente no bairro da Camoma, arredores da vila de Malanje, consome carne de cão e de gato desde 2022. Este pai de dois filhos conta que foi a fome que o fez perder o medo de comer estes animais:

"Eu tinha medo, muito medo. Mas comemos até agora, mesmo por causa da fome que estamos aqui a passar mal. Aqui em Malanje não há mais ninguém que me possa ajudar", lamenta José.

De acordo com denúncias de Gervásio Simão, médico de clínica geral responsável pelo principal centro de saúde em Malanje, estes dois animais já foram introduzidos na gastronomia angolana há algum tempo, nas províncias de Malanje, Cuanza Norte e Uíge.

O médico acredita que esta prática começou na capital do país, Luanda. "Por exemplo, neste momento, há províncias onde estão escassos esses animais porque estão a ser caçados e comidos", acrescenta o médico.

Cães e gatos podem ser portadores de doenças como a leptospirose e a raiva.

Se isso amedronta alguns, desenganem-se. Pedro Nzaji, de 23 anos, é exemplo disso mesmo. "É um animal que Deus pôs na terra para consumir. Essa carne é muito gostosa", diz.

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Autoridades desaconselham consumo

Apesar da crise social e económica, as entidades oficiais desaconselham o consumo destas carnes. As autoridades sanitárias locais estão muito preocupadas. Porque as consequências podem ser desastrosas se as famílias continuarem com este novo regime alimentar.

"O nível de saúde no nosso país é muito precário, esperamos que isso não aconteça, porque já tivemos uma situação dessas no Uíje, através do vírus Marburg vindo do macaco, que não foi coisa muito boa e essa mesma enfermidade veio a partir do Congo", alerta o médico.

"Esperamos que isso que está acontecer no nosso país não cause danos ou então grandes enfermidades à nossa população angolana", conclui.

O sociólogo José Eusébio desafia as autoridades angolanas a encontrarem uma saída para esta crise social. "Seria então optar por planos de intervenção que visam combater esta prática", recomenda.

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