FRELIMO não limita liberdade de expressão dos seus membros
27 de março de 2015
Em Moçambique, instalou-se a polémica na sequência de declarações do Presidente do partido no poder, a FRELIMO, Armando Guebuza, em que acusa alguns “camaradas” de tentarem semear a divisão e a confusão no seio daquela formação política. Guebuza, fez estes pronunciamentos na sessão do Comité Central (CC) da Frelimo que decorre na cidade da Matola desde a última quinta-feira (26.03) até ao próximo domingo (29.03).
Armando Guebuza, num discurso em que apelou à união, coesão e firmeza em torno do partido, lançou um ataque a alguns membros que alegadamente tentam perturbar o funcionamento dos órgãos do partido.Disse ainda que os adversários da FRELIMO querem acabr com o Partido. “Preocupa-nos a postura e o comportamento de alguns camaradas que publicamente engendram ações que concorrem para perturbar o normal funcionamento dos órgãos e das instituições e para gerar divisões e confusão no nosso seio”.
Guebuza, que não avançou nomes defendeu que os membros da FRELIMO devem orientar-se pelas decisões dos seus orgãos.
"Guebuza não está aberto à discussão"
Militante histórico e antigo Secretário do Trabalho Ideológico da FRELIMO, Jorge Rebelo, reagiu às declarações do presidente da FRELIMO ao perguntar qual é o mal do presidente Guebuza? E respondeu em seguida “é que ele não está aberto à discussão... ele trava e reprime. Por exemplo, neste seu discurso, já lançou essa ideia e agora toda gente fica com medo de ir dizer qualquer coisa”.
Para Tomás Salomão, do Comité Central, as declarações de Guebuza tinham por objetivo levar os membros daquele órgão a fazerem os seus pronunciamentos no encontro de maneira franca e aberta, facto que segundo ele está a acontecer. “Não creio que haja divisionismo. Os membros do Comité Central são pessoas responsáveis e sabem o que estão a dizer. O que pode haver é uma diferença de opinião na abordagem dos assuntos, mas essa diferença não significa que estejamos perante um inimigo, porque o importante é que as pessoas se sintam e sejam livres de se pronunciar”.
Sucessão na liderança da FRELIMO?
Um ponto que não consta da agenda da reunião do CC da FRELIMO mas é aguardado com expetativa está relacionado com a sucessão na liderança do partido no poder em Moçambique.
Jorge Rebelo considera que a registar-se uma alteração na liderança da FRELIMO , o próximo líder do partido vai enfrentar dificuldades porque Guebuza controla a máquina partidária. “Desde a Comissão Política até os primeiros secretários é uma cadeia comandada neste momento pelo atual presidente da FRELIMO. E muitos desses membros devem o cargo ao presidente. Agora, a saída de um e a substituição por outro cria sempre uma situação de incerteza”.
A situação política e económica do país dominaram os debates nos dois primeiros dias da sessão.
CC acusa RENAMO de postura intimidatória
O porta voz do encontro, Damião José, disse que os participantes acusaram a RENAMO e o seu líder de assumirem uma postura intimidatória que semeia o medo nas populações, obrigando-as a viver indecisas sobre o amanhã. “Os membros do Comité Central mostram-se preocupados no sentido de que não devemos, como moçambicanos, continuar a viver num ambiente de medo e até de uma certa anarquia. Temos que trabalhar para que de uma vez por todas este ambiente desapareça no nosso país e para que todos os moçambicanos, incluindo os da RENAMO, estejam preocupados com a consolidação da unidade nacional e o desenvolvimento do país”.O porta-voz da FRELIMO desmentiu ainda a existência de divergências entre o acual Chefe de Estado, Filipe Nyusi e a direção do partido.
Damião José disse que a direção do partido considera que o Presidente Nyusi “fez muitíssimo bem” ao aconselhar o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama a apresentar no Parlamento o projeto de lei sobre as autarquias provinciais.
Contudo, acrescentou que Nyusi não assumiu qualquer compromisso com o líder do maior partido da oposição para a criação de tais autarquias.