FRELIMO reticente com exigências que vão contra os princípios da democracia
20 de outubro de 2014Os partidos da oposição, principalmente a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), denunciam várias irregularidades no processo eleitoral da passada quarta-feira (15.10).
Porém, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), força no poder e que lidera na contagem dos votos, contesta as acusações de fraude eleitoral. A DW África falou com o porta-voz da FRELIMO, Damião José.
DW África: Como é que correu este processo eleitoral?
Damião José (DJ): É bom que recordemos que na mesa de diálogo entre o Governo e a RENAMO, a exigência desta formação política era a paridade nos órgãos eleitorais. Na sequência disso, foi revisto o pacote eleitoral, o que permitiu que os três partidos com representação na Assembleia da República estivessem representados em todos os órgãos eleitorais, incluindo nas mesas de assembleia de voto.
DW África: Foi isso que aconteceu?
DJ: Foi isso que aconteceu. Não é só da opinião da FRELIMO, mas sim de grande parte dos moçambicanos, dos observadores nacionais e internacionais, que o processo decorreu bem, de forma ordeira e pacífica, de maneira a garantir que tivéssemos eleições justas e transparentes. Excluem-se alguns episódios isolados de tentativas de perturbação do processo por parte de alguns cidadãos, claramente identificados com a RENAMO e o MDM. Refiro-me aos episódios de Tete, onde as urnas foram vandalizadas e os boletins queimados. Refiro-me aos episódios em Angoche, onde houve tentativa de erguer as barricadas… Estes episódios não põem em causa, no cômputo geral, o decurso normal do processo.
DW África: A FRELIMO já tem a certeza que vai vencer este processo?
DJ: Neste momento, a FRELIMO acompanha a divulgação dos resultados preliminares. Embora estes resultados sejam animadores para a FRELIMO e para o candidato Filipe Jacinto Nyusi, enquanto os órgãos eleitorais não disserem quem ganhou estas eleições, nós continuaremos a acompanhar serenamente o processo.
DW África: Como responde às acusações da RENAMO e do MDM sobre ações de vandalização do processo por parte da FRELIMO?
DJ: Não vamos responder às acusações da oposição. Mas podemos comentar. A postura assumida pela RENAMO e pelo MDM é de má fé. Todos nós testemunhámos que o processo decorreu bem. A RENAMO, desde 1994, nunca aceitou os resultados das eleições. Quando o MDM vence as eleições, não há irregularidades. No ano passado, nas eleições autárquicas, a FRELIMO perdeu as eleições na cidade Beira, em Quelimane, em Nampula, em Gurué. O que a FRELIMO fez foi reconhecer e felicitar os vencedores nesses municípios. A pergunta que os moçambicanos fazem é: As eleições são justas, limpas e transparentes quando ganha a oposição?
DW África: A FRELIMO estaria preparada para negociar com os partidos da oposição e incluí-los num Governo de unidade nacional, mesmo tendo conquistado a maioria no Parlamento?
DJ: Com essa pergunta eu respondo com outra pergunta: Será que depois do povo confirmar o vencedor das eleições, tem de haver negociações sobre o resultado que o povo concede a um determinado partido? Esta é a pergunta que tem de ser feita. Os moçambicanos esperam que, se os órgãos eleitorais vierem efetivamente a proclamar a vitória da FRELIMO e do candidato Filipe Jacinto Nyusi, todos se conformem com os princípios do jogo democrático. Não criem confusão e não apareçam com exigências que são contra os princípios do jogo democrático.