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Futuro da juventude em debate na cimeira UE/África

Barbara Wesel | ac
29 de novembro de 2017

Mais de 80 chefes de Estado e de Governo estão reunidos em Abidjan até quinta-feira (30.11). "Investir na Juventude para um Futuro Sustentável" é o tema do encontro.

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Foto de arquivo (2012): Escola na República Centro-AfricanaFoto: imago/CHROMORANGE

A quinta Cimeira UE/África está a decorrer na capital da Costa do Marfim, Abidjan, de olhos postos no futuro da juventude. A discussão faz-se em torno de propostas como um "Plano Marshall2 para a reconstrução africana e a criação de um programa Erasmus para jovens empreendedores, ambas avançadas pelo presidente do Parlamento Europeu (PE), António Tajani.

"Penso que nesta cimeira temos que resolver os problemas que dizem respeito a ambas as partes. A imigração é um desses temas2, disse Tajani na véspera da cimeira, presidida pelos líderes da União Africana (UA), Alpha Condé, e da União Europeia (UE), Donald Tusk.

Segundo o dirigente europeu, o terrorismo, o desemprego juvenil e os efeitos das alterações climáticas são também "problemas que afetam tanto os europeus como os africanos e os dois continentes deveriam trabalhar em conjunto, no sentido de encontrar soluções".

"Não se trata de ficar bem na fotografia, mas sim de encontrar soluções praticáveis", frisou.

Brüssel EU-Parlament | EU-Afrika-Treffen
Presidente da RCA, Faustin-Archange Touadéra, e Antonio Tajani, presidente do Parlamento EuropeuFoto: European Union 2017 - Source : EP

Desenvolvimento económico num continente jovem

Realizada pela primeira vez na África subsaariana, a cimeira visa alterar o paradigma do desenvolvimento no continente africano, virando-se para as novas gerações que, através das novas tecnologias, poderão dar um novo impulso para o avanço económico nos 54 países.

O plano de investimentos externos da UE prevê um investimento de 3,4 mil milhões de euros em África.

O ponto de partida desta cimeira é, sem dúvida, a vertente demográfica: em 2050, África terá o mesmo número de pessoas que a Índia e a China têm atualmente juntas - mais de dois mil milhões - e mais de metade da população terá menos de 25 anos. "África deve ser capaz de garantir um futuro aos jovens", diz Antonio Tajani.

"A visão mudou, agora querem trabalhar com os representantes africanos. Trata-se da criação de uma verdadeira parceria", disse, por sua vez, o presidente da República Centro-Africana, Faustin-Archange Touadéra, em entrevista à DW. Para o chefe de Estado, a emigração dos jovens africanos está diretamente ligada à falta de desenvolvimento.

Kongo Kinshasa  - Krankenhaus: Panzi Hospital
Denis Mukwege no Hospital de Panzi, em KinshasaFoto: picture-alliance/Yonhap/YNA

Denis Mukwege, médico e ativista dos direitos humanos congolês, acredita que esta cimeira dará um impulso para que se encontrem soluções para os problemas que afetam uma grande parte dos africanos, sobretudo os jovens. "As nossas expetativas são enormes”, disse o congolês. "Até agora, o continente africano era visto apenas como fornecedor de matérias-primas. Mas nesta cimeira a perspetiva é outra: as atenções estarão viradas para os direitos humanos, a boa governação e a democracia."

Apoio financeiro com "condições prévias”

A Europa continua a ser o maior doador no apoio ao desenvolvimento – com cerca de 20 mil milhões de euros no ano passado. Ao mesmo tempo, os países africanos receberam cerca de 21 mil milhões em transferências dos seus cidadãos que residem no estrangeiro. Por esta razão, muitos países recusam aceitar os emigrantes deportados da Europa – afinal, contribuem para o crescimento económico.

Futuro da juventude em debate na cimeira UE/África

Em comparação, os investimentos diretos europeus no continente africano totalizam 32 mil milhões de euros – um valor relativamente modesto. Os países africanos esperam mais dinheiro e um maior compromisso.

O presidente do Banco Europeu de Investimentos, Werner Hoyer, está a estudar um plano para criar um banco especial para África, no qual se possam concentrar os créditos e garantias para projectos no continente. Para já, ainda não é claro quando é que o plano será colocado em prática ou quanto dinheiro será disponibilizado. Mas o dinheiro não resolve tudo, segundo o ativista congolês Denis Mukwege. É preciso saber como aplicar as verbas, e sobretudo evitar que elas sejam canalizadas para os bolsos dos governantes.

"Dar apoio financeiro aos ditadores africanos sem condições prévias é contraproducente. É o mesmo que estender um tapete vermelho aos ditadores, sabendo que eles são responsáveis pela fome a que os seus povos estão sujeitos. Trata-se de ditadores que praticam a fraude eleitoral, que alteram as leis a seu bel-prazer e que não merecem o respeito dos europeus", sublinha o ativista.

Mukwege é conhecido pelo seu trabalho na luta pelos direitos das mulheres vítimas de violência no Congo. Na opinião do médico e ativista, a maioria dos problemas do continente não se deve à falta de recursos, mas sim aos maus governos. Denis Mukwege acredita que a paz e o desenvolvimento só podem ser alcançados com base na democracia e na boa governação.