Governo de transição da Guiné-Bissau não vê problema na mudança de pessoal em Lisboa
10 de agosto de 2012Os embaixadores da Guiné-Bissau em Portugal, em França e na União Europeia serão substituídos por três novos encarregados de negócio. A decisão é do governo de transição da Guiné-Bissau, formado depois do golpe de Estado de 12 de abril.
Um despacho do gabinete do ministro dos Negócios Estrangeiros guineense, determina a nomeação do poeta Carlos Edmilson Marques Vieira para o cargo de ministro conselheiro na embaixada em Portugal.
Fali Embaló, diplomata de carreira, que representa o país há cerca de dois anos, confirmou à DW África ter recebido um documento de Bissau a pedir que se prepare para abandonar o posto em Lisboa.
O diplomata não recebeu nenhuma notificação oficial, mas assegurou à agência de notícias Lusa, que vai continuar a exercer as suas funções até que estejam reunidas as condições para regressar.
"Digam ao povo que fico"
Contactado pela DW África, Fali Embaló evitou comentar a notícia por uma questão ética. À Lusa, ele disse que é um prazer regressar ao país natal. No entanto, o ex-deputado do Movimento Bafatá, Domingos Lourenço Fernandes, que também é presidente do Conselho dos Anciãos da Guiné-Bissau, acredita que o diplomata guineense deve continuar em Lisboa porque ele foi nomeado, na época, por um governo e um Presidente legítimo, eleitos pelo povo.
Lourenço Fernandes defende que Embaló não é embaixador de um governo, mas do Estado da Guiné-Bissau: "Ele é um apartidário." Segundo ele, esta é a vontade de quase 90% dos imigrantes guineenses.
O ex-deputado considera incongruente e vergonhosa a atitude do ministro dos Negócios Estrangeiros do governo de transição, Faustino Imbali.
À DW África, o Lourenço Fernandes lembrou que quem decide sobre assuntos relacionados com os embaixadores não é o ministro do Negócios Estrangeiros, mas o primeiro-ministro juntamente com o Presidente da República."
Persona non grata
Observadores políticos sustentam que o executivo de Lisboa não dará luz verde a um encarregado de negócios indicado nestas condições, uma vez que Portugal condenou o golpe de Estado na Guiné-Bissau.
Abordado pela DW África, José Carlos Júnior, do Fórum da Diáspora para o Diálogo e Desenvolvimento da Guiné-Bissau, afirma que o ato do governo de transição, de substituir o embaixador, é ilegal. Já avisou que será enviada uma carta à capital guineense para impugnar a ação.
Para José Carlos Júnior, o diplomata em Lisboa é o homem certo, no lugar certo. Na opinião dele, Embaló não deve acatar as ordens de Faustino Imbali.
"O Faustino Imbali não é o dono da Guiné-Bissau, nem Serifo Nhamadjo que é uma representação da CEDEAO na Guiné-Bissau, da Nigéria, da Costa do Marfim, do Senegal e do Burkina Faso."
O secretário de Estado das Comunidades guineenses, Idelfrides Gomes Fernandes, disse porém, nesta quinta-feira (9.08), que a movimentação do pessoal diplomático é um ato normal e que portanto, não há motivos para a atuação ser criticada.
Autor: João Carlos (Lisboa, Portugal)
Edição: Bettina Riffel / António Rocha